quarta-feira, setembro 29, 2021

A eternidade é um instante

 

 

  Os créditos da fotografia são da Luísa Ricardo,

numa oficina do LUGAR COMUM

 

 "Uma imagem para um conceito: paisagem cultural."

 

Com o braço pousado

Sobre a pedra barrocal

Vejo o mundo dilatado

Num conceito virtual

 

Ó Natureza bruta

Tão delicada que és

Que dás deliciosa fruta

Pedregulhos com altivez

 

Tons vermelhos acetinados

Na luz sombrosa e esvaída

- Verdes e azuis encimados

Na paisagem colorida

 

Um quase branco rosado

Como um fruto marginal

Naquele braço ali plantado

Numa nesga horizontal

 

Aquele braço estendido

Sobre a pedra barrocal

Trás um novo sentido

A toda a gesta local

 

Pedra sobre pedra redonda

Naquele lugar escondido

Sobre a outra pedra longa

E árvores como um vestido

 

Um muro popre construído

Sobre uma laje navegante

Com um braço estendido

E um leve sentido flutuante

 

É com forte força visual

Que o braço está presente

Sobre a pedra marginal

Ali, na paisagem existente

 

 

 

Coda 

 

Aquela quilha de barco no chão

Num mar da presa terra navegando

Neste lar sempre em transformação

É como volúpia de desejo forçando

Despir neve em triste coração

 

É mar silencioso de estar a ver

Aos olhos de um presente afastado

Ver a quilha dum barco se perder

No barranco do grés encarnado

 

Tão doces meus olhos estão nisto

Vendo na Terra todo o seu mudar

- Ao pensar que estou e ainda existo

Sinto meu colo de sonho a voar

 

 

 

 Da personagem - encriptada

  

Rosa branca flor do mato

No sapal dos montes Hermínios

De nome que aqui não relato

Com saberes em vastos domínios 

 

 

 

Posfácio

Na mudez aberta daquela solidão incerta a anciã natureza de tez agreste, de sonho verdadeiro e recto abre seu flanco de natureza crua, rompe seu calado ventre de insónias brutas e arguta robustez de viandante pesaroso e manso; asperge o pólen da verdade inteira sobre o manto diáfano e líquido – desperta as sombras das virtudes singelas, afaga o corpo, as raízes, o silêncio dela na beira dos matizes verdes e nos crepes da luz intensa; fragorosa rectidão do entalhe…  

 

Aquele braço estendido

Abraçando a rocha dura

Grita por um ser unido

Nesta diversa natura

 

Faz lembrar a todo o mundo

Numa convulsão suspensa

- tens na união profunda

a razão de tod´a pertença

 

É de lá que tu vens

É p´ra lá que tu regressas

- tens nisto alguns porquês!...

mas o resto são promessas

 

 

 

segunda-feira, setembro 27, 2021

Outro mundo é possível



Estudos - Construção dum espaço I,II – 29.5x20.5

Desenho a grafite sobre papel - 2020

Subtrair dois dedos de existência à realidade digital, esse enigma de contornos duvidosos onde as pulsações são esferas diluídas dos nervos, quietações cerebrais dos crepúsculos sem rosto e sem tormenta; informes estruturas do virtual como anátemas duma consciência viva e precursora funcionando em aberta relevância solidária; - ó deuses de naftalina oriundos das margens dos nenúfares, dos assobios dos arroubos fortuitos, das cruzadas insanas como cânticos dos arrepios do medo! - sujeitos de acção elevando braços à estatura dum sopro ou da consternação, signos insatisfeitos da mobilidade, sobreleva neles o verde casa de qualquer sonho, a matéria porosa dos músculos ou a verdade dos trilhos ocultos; mão pousada sobre o joelho em lágrimas, não a violência do efémero sobre a nudez da carne beijando o chão da memória elementar nas vertigens dos primeiros passos, desabrocha a veemência da soberania.