sexta-feira, janeiro 19, 2024

modelações XXIII




Espaço decomposto

Desenho a grafite sobre papel 60x80 - Anos 90

 

Às vezes visito a multidão, sopro nesse desejo lavado de salmoira como a amêijoa na Ria Formosa; não sei se o azul é branco, ou, verde a cor do mar que cerca a angústia; não sei se a verdade se esconde atrás dos opúsculos da mente ou se o nariz espirra um tremor azedo; a água corre com o destino natural que se lhe deduz da líquida natureza, assim como a espiga nasce da semente e veste-se de sol; abrindo-se em torrentes de ondulações, viajando sobre as crateras da resistência, obrigada à certificação dos encantos de mãos abertas, a água, está! – evapora-se como a subtileza dos encontros ou ainda na dor dos mesmos se se eleva à altura das raízes do sal nos desencontros em suspensão; agarro então os corpos cheios ou vazios pela cintura das vozes que oiço, enquanto a multidão avança em segredo sobre planos de quinta-essência; nestes casos é natural que a razão se esconda atrás dos horizontes como as fontes no deserto; os saberes também se precipitam na noite amachucados pelas sombras virgens, pois jamais alcançaram a sua grandeza de pensamento, assim como a alegria dos sonhos; visito a multidão pelo lado de fora, pelo lado em que os corpos se esforçam por encontrar os êxtases dos destinos, refrescados pelas ondas marítimas que vão descendo pelos degraus das escadas rolantes, com os pés lavados em perfumes da abundância; –  que farei sozinho sem as mãos dadas aos laços da amizade!