sábado, fevereiro 10, 2024

modelações XXIV

 

 modelações XXIV


 

 Estudo de mãos Desenho a grafite sobre papel

 21x28 Anos 80


Refresca esta minha agonia com o teu corpo alegre, musa dos cabelos de ouro; carrapito mar, nessa densa atmosfera dos teus ombros e pescoço de linho, ondulando na fímbria dum Agosto alado; neste patamar azulado de servidão aos olhos, com música da rua amarga, os leves passos dançam; teus gestos da minha aflição, jardim sem flores; nos regatos das horas que voam construímos amarras, ocos pássaros das madrugadas; papoilas flutuando sobre as águas dos meus itinerários, como cerejas brancas no inverno, a chuva bate; na esplanada este céu de nuvens dos olhos e bolor avulso; a tarde inicial dos sentidos brilhando despeja na atmosfera um doce dilúvio de refracção, – cálcio dos ossos delicados; sobre o tampo da mesa a mão abandonada ondula e cerze notas musicais; brandindo sobre os braços ecos e amarras, os murmúrios das águas acordam na pele os brandos louvores do zéfiro; é a tarde enrolada no devaneio dos sentidos, sobre a luminosidade que paira nos verdes marítimos, nos azuis celestes encostados aos horizontes da quietação; ela passa, quimera dor que abraçamos ternamente, os dedos abrem-se sobre a superfície metálica como asas querendo voar, e, inteiramente nus sossegam; na despedida um prosaico mastigar enlaçando as estrias doiradas e os minerais, o pão que do abandono resta e a bruma evanescente; imagens iluminando os minerais das sinapses articulam frases, pensamentos, restos obtusos de vermelhões das artérias; sobre o granito da gramática o verbo apazigua e dá colorido aos remorsos.