segunda-feira, dezembro 20, 2021

Outro mundo é possível


 

 

Luar
Pintura a óleo sobre cartão
68x52 - Anos 70
Colecção particular do Dr.Bráulio de Almeida
 

 

  Dia e noite em trança

 

Pequeno dia

Que meus olhos vêem

Na noite de estrelas cadentes

- Olhar amadurecido da noite –

Sobre teu olhar que sorri

Nas vozes que alegram tristemente


Dos pequenos dias sem fim

Indo nos sons alegremente

Outros dias que não vivi

 

Ainda sobre teu olhar pendente

Subindo tua voz que, - ao fim

dia pequeno que balança

como ave no céu da alegria -

Noite grande onde se alcança

O dia pequeno que caía

Na noite subindo em mim

- Dia e noite em trança-

 

 

 

terça-feira, dezembro 14, 2021

Outro mundo é possível

 Divertimento
Desenho à pena sobre papel
69x45 - Anos 70


 

Ai dias!

De leves rubores de maçãs…

Andam os braços leves

Andam os passos pesados…

 

Ai dias!

Levando pela manhã

Aos olhos rubores atrasados…

 

Ai dias!

Que lobos sois…

Perdidos no troar do vento!

 

Ai dias!

Prendendo e depois

Soltando os rumores trementes

Nos passos despidos e pousados

 

Ai dias

De rubores indo

No velame do pôr-do-sol

Embarca no luar rente à lua

Regressa nas asas do arrebol

 

Ai dias!

Que ventos sopram

Da tristeza dos dias vãos

Quando os olhos se enamoram

No rubor das leves maçãs

 

Nota - escrito no seguimento da leitura da Cantiga de amigo, "Levantou-se a velida, " de D. Dinis; com o texto de análise critica de Helder Macedo, no livro Camões e outros Contemporâneos, pág. 15

 

 

 

 

sexta-feira, novembro 19, 2021

A eternidade é um instante




  anos 60 - os hippies dos Gorjões

 Grupo de amigos Fotos Anos 60

autor fotos -?

 

 

Mote

 

Nossas flores daqueles longes anos

Não sendo as apps dos dias de hoje

Têm entanto encantos tamanhos

Que apps não há que as despoje

 

 

                   I

No lençol dos anos de oiro

Nas estradas que vão ao relento

Há folhagem como tesoiros

E desejos levados p´los ventos

                 II

Dança dança meu coração dança

Quebra todos teus pesadelos

Esvoaça nas asas duma trança

Encontra de novo teus anelos

                III

Vai vai andorinha ao vento

No solo de um abraço firme

Deixa em meu peito teu alento

Onde meu coração se redime

                IV

Foi lá que eu sempre estive

É lá que eu ainda estou

É de lá que venho em declive

É p´ra lá qu´a andorinha m´levou

                 V

Oh meu coração pungente

Que à sombra traz a luz

Deixa meu coração contente

Quanto à sombra a luz pus

                VI

Há sombras que vêem do passado

Luzes que descem dos mastros

Bailes onde se dança calado

Amores que sobem aos astros

                VII

Dança dança coração alado

Teu viver neste rio lembrado

Deixa teu suave e loiro brado

Nas vozes deste tempo quebrado

                 VIII

Na sombra de todo o silêncio

Quando ao ar deito meus amores

Há um desejo de grande incêndio

Bailando nas ondas de todos´s temores

                    IX

Há rúbeos navios de espuma no ar

Nas estrelas um passado candente

Nas estrelas por onde vou a navegar

Há indícios de qualquer voz ausente


                   X

Oh estradas da raiz dos sonhos

Tua fala traz-me ao colo

Dos dias de olhos risonhos

Nos vales em que me atolo

                  XI

Canta meu lugar de nada

Abraça minha dança de tudo

Grita grita minha voz calada

Nas ondas das estradas de veludo

                  XII

Ah lágrimas que caiem das estrelas

Teu silêncio de perlas no chão

Onde posso morrer ao vê-las

Se rindo de mim e bailando estão

                  XIII

Apaga-te calmo fósforo de chama doída

Nos verdes pastos dos ventos desertos

- Sobrando os rastos da noite possuída -

- Tremendo teu canto nos rumos incertos –

                   XIV

A luz que sobra do chão

Nas danças dos teus cabelos de sombra

Sobe ao muro da ilusão

Porquanto ao chão esta tomba

                   XV

Ah coração desgraçado

Que te entreténs em verdes cantos

Abre os olhos de todos os passados

De encontro aos nossos encontros

                    XVI

Não há verdade que se apague

Na aura dum raio de luz

Nem coração que coração afague

Quando em saudade o coração fulge 

 

 

sábado, novembro 13, 2021

Outro mundo é possível

 

 


 

 

 As mãos na caixa -  Estudos para ilustração

Desenho a grafite sobre papel 21x14- 2018




Preciso é de densa humanidade

Não deuses nem de nobres mitos

Poesia alta em justa profundidade

Bordando o calendário dos nossos gritos

 

Perdido no sótão das vaidades

Azulejos de vidro transparente

Passam dias de ferozes novidades

- Espelho no arco-íris da serpente -

 

Vozes de chinelo debaixo dos tectos

Cuspindo belas angustias de morno calor

Perdendo na orla do horizonte os afectos

Do entre nossos corpos a nudez da dor –

 

Nos off-shores de doces cantos

Com caudas de silêncio brilhando

Vão-se arrastando os nossos tormentos

Nos óbitos dos espelhos bailando

 

Ó baile de sensações domingueiras

Vivendo na acidez dos embustes…

- Lembra-te dos figos e das figueiras

Na voz das árvores e dos arbustos

 

Nas mãos das flores em botão

Cuspidas da escuridão dos monstros

Há flores de oceanos em gestação

Em rostos pairando nossos encontros