
Era uma e meia da noite, na avenida, ainda algumas pessoas restavam na esplanada tentando refrescarem-se dum dia tão calorento como fora aquele, o dia do Pat Matheny e Brad Mehldau em Loulé.
Desde a hora do jantar que me doía o não ter bebido a bica. Dentro do recinto do concerto só havia cerveja e em casa do Hélder era o que havia; bebi aí uma, porque a outra meia tinha ido parar ao chão. - aquele “gajo” nunca mais troca as cadeiras de plástico, onde os convidados acabam por se esparramarem!
Pedi uma bica e uma água, quando abri o porta-moedas para pagar verifiquei que não tinha dinheiro suficiente; o Pat tinha-me levado os níqueis. Vinte e cinco euros – caramba!... e, eu a lembrar-me que tinha ouvido tantas vezes o amigo Telmo ( o Marroquino) , igualável ao Pat, de borla? (Em breve postarei aqui esse músico e guitarrista em homenagem merecida). Dei ordens imediatas ao despachante para não tirar a bica; nisto um senhor que estava ao meu lado prontificou-se: - tire lá a bica que eu pago!
Lembrei-me então, num esforço de memória, que tinha guardado uma nota algures. Encontrei-a. Agradeci ao senhor e paguei do meu bolso. Peguei na chávena de café e na água, ia sentar-me mas estava tudo ocupado, olhei, lá estava o meu amigo de momento, sentado no banco do jardim a beber o seu copo de cerveja; fui sentar-me ao seu lado.
- Obrigado, - mais uma vez , disse.
- Tenho dupla nacionalidade, brasileira e portuguesa, - respondeu sem dar importância ao caso.
- Olhe, estes óculos vou ao Brasil comprá-los, cá é uma fortuna; - abriu os lábios e mostrando uma dentadura composta, passava com o dedo indicador dum canto ao outro da boca – também os comprei no Brasil, o que poupo dá para viagem. Sou de Faro, mas há dois anos que vivo aqui em Loulé – há tempos vim de França… e disse qualquer coisa a que não prestei muita atenção. A conversa era sincopada, algum bafo de vento quente ainda se fazia sentir.
- hoje fez um dia de calor, disse eu àquele duende da noite para dar continuidade ao ritual de agradecimento.
Quando bebia o ultimo golo de água pela garrafa, ouvi:
- Olhe, já dormi dentro duma câmara frigorífica a trinta e três graus negativos!
- Òh homem, como é isso possível ? perguntei espantado.
- Com um fato térmico, trabalhava nos armazéns.
-E porque dormiu você dentro da câmara?
- P´ra não trabalhar, respondeu imperturbavelmente.
Quando entrei no carro eram duas e tal da manhã, com uma sensação de que o Pat tocava música para o chá-das-cinco.