quinta-feira, agosto 03, 2023

modelações XX

 

 

 
Homem na praia
  Desenho à pena - caneta rotring sobre cartolina e guache
 30x30 Anos 80

     

Que lonjuras, que desenhos levam as tuas guedelhas à paisagem agreste? Nas lajes inscreveste os dias rascunhando no tempo de todas as horas; no horizonte de incerta luz, arriscando o norte da paixão, adoras o sol no apelo à lucidez, dormes na azinhaga dos louros imortais, fabricas os óleos crepitantes! Pisas os tojos daquele real de pedra dura, rastejando paulatinamente, crescendo na lenta agonia do álcool, mordido por uma dor de estrelas e abraços das folhas secas; cresces em profusa lentidão dos dedos com os olhos presos aos ventos, pisando as cinzas com adornos de cristais; que lonjuras são estas crescendo nas cinzas com a lingerie dos ecrãs; das paisagens digitalizadas e deslizantes, com holofotes vertendo lágrimas pelo rabo; os cristais virtuais insonorizam os degraus que sobem ao tecto do absinto, como os vícios depenados; eu ando, tu andas, nocauteando o alcatrão que nos rodeia com os olhos assustados ao redor dos nossos encontros; o peso disso sobra em lágrimas pelos cantos da casa, derramando sobre o pulso a dor, tanto ao amanhecer como ao chegar; o rasto que alegra os olhos perdeu-se como fogo-fátuo, esburacando o nosso tempo onde ratos nos visitam de mansinho como chuva miudinha,   

isto será hoje, ontem ou amanhã?

Verdes são os ânimos correndo licorosos por azuis invertebrados, neste manso campo de florestais sentimentos; retinir de emoções e glórias sem cristas, pousada voz entre as folhas adejantes como água nos subúrbios da sede, – meia dança nos corredores da aflição; corre pela mão da ventura este sangue opaco, doce e raivoso de anéis rumorosos; derramou a era dourada vícios sobre os ombros ao transido homem? da caverna abeirou-se a náusea como sangue voluntarioso, crescendo o espaço na dimensão infinita dum querer macio e rugoso; chegados aqui, desavindos na prontidão dos sentidos, coado o sol com nostalgia, o bezerro de ouro solfeja danças do apocalipse e fumos das chaminés de aço.

Estou vivo, entre o amor e a morte acordaste em mim a névoa dos acordes musicais, o longe como raio de saudade na distracção da memória; na ópera das viagens pelas palavras abrem-se os caminhos que não foram, como os que aqui chegaram com as ligaduras nas mãos; todas as árvores que se soltaram dos olhos e pousaram nos calendários, alargando a vida como esponja das emoções, ora de asas de condor ora violadas pelos segredos dos corpos, ou os signos dos astros, habitantes de – para além de mim, como íngremes sombras das galáxias eternas dos sóis e vulnerabilidades dos noivados e dos pássaros, deixaram violentas recordações de ruídos;

o sol abre o espaço com os rústicos medos sobre as lajes, o calor que se solta das mentes poderosas, intuem desígnios da escuridão; os corpos beijam a saudade por dentro e o riso que estala na madrugada une os verbos às emoções.