Silenciou-se a escrita!? – somente o desejo de alabastro, obediente cadastro da palavra à tona da vida, habitando a noite da eloquência, sondando a emoção em sobressalto, assinala a sua escassez; desse lastro duma realidade ferida, sobejando da penúria das lágrimas a gizar os contornos do texto, o vocabulário dissipando-se na sombra do lume, substância dos nomes presa nas agruras das letras, onde o apertar das mãos, desenhando-as, é um terçar de armas, o que se perde fica; o perdido: – viagens com os endereços da prontidão, encontros e as suas marcas na epiderme, verdes ramos ondeando nos labirintos da mente, ninhos de luz subindo das amizades merecidas, pássaros chilreando nas campinas da criação, azul fundindo os enclaves da prostração e a lírica da écloga –, rasgos estes que definhando escurecem na redacção, – bailação no refluxo das invernias.
Chegado aqui pelo esquecimento, nuances da sintaxe arrastada pela lama corporal, o ver pela fenda do eu adormece como criança com sono de gomos de laranja verde, – peito da mãe habitado de volúpia.
Lembro que escrever é viver! A palavra consubstancia a noite, a clareza da carne, a pele dos sonhos florescendo nas nossas verdades; a coesão corporal ouvindo-se na voz repercutida, – fluxos da natureza errante. Renova o ambiente como árvore florida na floresta perdida; diz da fome e da luxúria, da guerra e do desaire; anuncia o mundo e o intemporal, – força gravítica deambulando. Deste solto olhar, nele, se envolve o silêncio, como esqueleto perdido sobre a cinza, ou uma trança caída no chão.
Espero! Uma laranja podre enche-me de alegria, pois ela diz-me: – nem só o bom existe, e é crua a presença que subverte; a mosca alegra-se com a merda, as flores murcham, o peixe cai no anzol; a palavra escalda o ambiente murmurante. Se neutra, envelhece –, silenciou-se a escrita e tenho sono, tristeza no olhar!
Adensa-se a curva amolecida das palavras, o vocabulário que fica na penumbra. Esperando, tomo um café, a esplanada é singela, sem adornos de relvas e palmeiras; vedação de toscos troncos com sulcos em espiral, fugindo não se sabe para… dilatando as angústias como feridas no ventre do tempo; natureza seca, instável; lixo, alcatrão como o corredor da casa infinita e sem janelas, balde do lixo, muro e sebe sobre… o som da máquina que fumega, o trabalho rompendo o estático chão com alento; construindo. O céu muito azul visto com óculos de sol, nuvens branco cinzento entre mim e a eternidade; espaço louco; garrafa plástica sem água, chávena e pires; a mão alevantando as palavras –, charrua da comoção do verbo. O travessão na escrita.