segunda-feira, julho 22, 2024

modelações XXVIII

 

Fique em casa - Pintura a guache e lápis de aguarela 

enquadramento compósito - 44x61.5 - 2020 

 

Há um tango na escuridão, a dois metros do solo habitam os seres deste mundo, ao jeito de suspensas aranhas; alguém respirando fundo lamenta a incomoda posição e segue apressado; há passos que se cruzam no entendimento, pesos animados por gravidades; acções que se medem ao milímetro, sustos remetendo para custos incalculáveis nas peripécias dos julgamentos; rasgados universos que se vão construindo em labirínticos acontecimentos; nas secretarias, vão sugando e transformando o amadurecido real – um pão de trigo esfarela-se, um tomate fica verde para todo o sempre, uma casa apetecida e necessária fica entaipada num plasma cibernético em circulação; um fogo-fátuo saindo nervoso da escuridão, semelhante a osso antigo enterrado e carcomido, adensa-se; nas profundezas, dando dentadas, para que não caiam no esquecimento os momentos de incertezas, dança-se! percebe-se que nas curvas das estradas, surgem lacónicos e apressados, como se suspendessem a respiração entre dois incêndios, voluntariosos chefes de famílias, levando um papo-seco a chorar, na mão direita, derramando lágrimas escuras como pavões no telhado: nada está perdido, dizem, neste estranho estado das coisas, embora uma vaga sensação de frieza cruze o horizonte em perpétuo rodopiar; tudo se torna mole neste frenesim caudaloso de sensações, ainda que a dureza dure na míngua da respiração, das mensalidades, do fervor do pontapé e da escaldante saliva; um ronronar agudo ergue a respiração elevando o desejo à crueza da branca naftalina; alcançando metas, desbravando terrenos suculentos da emancipação, bordando de rendas os corpos dos indivíduos, alcança-se uma pura pausa no enviesado viver, dizem!