quinta-feira, agosto 14, 2025

modelações XXXIX

 

 Dança na Fonte Santa  Técnica mista - guache e lápis aguarela sobre papel
  29.5x39.5 Anos 20

 

 Viver é uma terna aventura? – ouço vozes no esquecimento do eterno! aqui, o império modelado de cera, a abstracta ordem que sobressai dos sonhos, é um desafio sobrante das angustias, o iníquo prazer de seda na floresta do arbitrário –, estar molemente no silêncio desafia a construção dos astros, o firmamento da violência, a causa das emoções evanescentes, como um arrepio de sono num medievo campo de batalha; moro, moramos na inerte vibração dos astros, e a beleza que sobra das flores arrepia-nos; toco a rosa no quintal, e o veludo acetinado das pétalas esvoaçantes azulam o olhar dos nervos, a perpétua ordem das coisas no cadinho da substância da luz; elas dançam o tango no minúsculo tempo sumptuoso; no grande átrio, onde o passar do tempo se alapa às paredes, como lagartixas no tecto do mundo e dos risos, despejamos a solenidade dos dias nos vazadouros; e, o fervor que esbarra na cal da parede é duro, e dói pelos olhos, na ementa do prazer – Esvaída a lucidez, o contorno dos espinhos alvitram incongruências, como remorsos vindos das verdades inacabadas, ou das pétalas que murcham; nos jardins das vitórias os faróis acendem luzes da ilusão –, se as emoções apodrecem no vazio, ergo-me em chuva de sonhos? O corpo sem a erosão do tempo alivia a penúria da existência –, mas por quanto tempo, no alpendre dos ninhos do amor, perduram as nobres cadências? – Estar virgem dos soluços da morte, é a mentira nua que me cerca; Um punhal atinge a saudade, arde o matiz do verde nas sombras da recordação; são peixes de outrora, folhas que caem, elogios da fome, a Mona Lisa dormindo; –, Está prestes a envenenar-se o céu da mente; um crime aproxima-se:

– solto a alegria das reverberações com a caneta –, mato a morte com as palavras, o pincel! – alivio a esmola da vida com os sapatos no chão; sou o detective das sombras que iluminam as árvores, os rios e a noite; navegando nas tertúlias o medo fica nas gavetas; acolho o teatro dos dias, a prosaica voz aberta; vago e solene, neste jardim de luvas, as horas apitam contra os escombros.