terça-feira, julho 18, 2017

os corredores habitados



                          
                       Soneto  com mote



Estou sentado e serei sempre igual a qualquer coisa


        - um incómodo avulso numa manhã fresca

        - um grão de poeira latente

        - um sopro vindo de dentro sem cadastro

        - um outro que poderá ter atravessado a inércia 



Sou sempre igual ao estado imponderável das sensações a que aspiro


        - um fósforo que se acende com um sorriso

        - um halo extremoso circundando os cinco dedos

        - uma flor balindo num campo arado

        - as vestes de um verbo nocturno adejando a pele



Se me levanto e interrogo o abstracto


         - enterro a mão noite a dentro

         - voo com um cachecol de lágrimas no bico

         - deixo do lado de fora o véu que me esconde



Estou sentado e sempre ao redor de mim me procuro em ser único
                 

          - o que me absorve sem ter fim

          - longe de ti no espaço que une

          - perto do pranto da luz que brada   
         



Estou sentado dedilhando nas estrelas ao meu alcance