terça-feira, maio 10, 2016

os corredores habitados



Os sentidos são examinados quando num regresso às zonas em que habitámos surgem - pequenos relevos de saudades, formas de objectos onde dormiram os nossos futuros desassombrados, - uma pequena balança de plástico colorida que se escondia dentro da caixa da farinha Amparo, por exemplo; pela inércia do presente chegamos a lugares de ausência e ocultamo-nos do presente em labaredas, - as Esfinges dos nossos corações. Há ternura nas paredes que nos suportam - ajusto às frases que vou escrevendo.


A balança exprimia um sentido agudo na exploração da brincadeira, perdia-se o pleno gozo no sortilégio da aparição pelo escancarar da caixa, e, nela desabrochava uma floresta de indícios novos, de vibrações dum futuro anunciado na miniatura do objecto, espectro larvar do homem, ressonâncias dos próximos dias, já, no equilíbrio dos pratos vazios. O inédito e ainda inaudito plástico começava a vicejar aos olhos como um espasmo que entra sem cortesia pelo peito sonolento. Digo ainda daquele amarelo-limão, habitando em plasma de evidência fotográfica: - acoito-me no longínquo como um pinto que deseje regressar ao ovo embrionário.