sábado, outubro 31, 2015

os corredores habitados



 Desenho de José Assis em homenagem póstuma


Teus riscos tua mão


A comoção serenou.
De ti, o que digo,
Teu risco
Teu traço
Teu  ver de dois corpos sem fim…

A comoção voltou.
De ti, o que digo,
Teu imperativo silêncio de agora
Teu lusco-fusco  entre o claro e o escuro
Teu anel de antiga rotina
Teu verbo de riscar aceso
Tua luz que se apagou…

Da  comoção prostrada
De ti, o que digo,
Teu claro ser de riscar
Teu sentir preciso no tacto
De dois corpos pulsando
Nessa unidade que morre devagar.


A comoção sossegou.
De ti, o que digo,
De um lápis que tiveste na mão
Riscando pelos atalhos
De um dia claro e sonoro
Teu rosto  de sobressaltos
Teus azuis de mares rasgados
Pelos  corpos  desamparados
Que em teus dedos sorriram

A comoção voltou



quarta-feira, outubro 28, 2015

Anos 10



Quadro nº 26
Um homem na paisagem
Tela,madeira tinta a óleo
33x27 


sexta-feira, outubro 23, 2015

os corredores habitados



desço as escadas
no degrau antes do pé, a viagem daqui

- um ciclo brevíssimo ao olhar uma ferida
 no aquário do medo -

sobre a mão incerta penetrando este segredo
o outro lado do longe, passo suspenso
projectado nas fileiras da vertigem

ou degrau sonoro que ecoa
nos vestígios da cal suada 

um pé descalço pela saudade adentro
degrau que me acode, outro
passo suspenso

desço devagar
na imaginação  do meu inventário
em cada lance piso o ciclo que se abre
- resistir não é vender poemas -

o joelho dobro pelo pólen da noite que nos cerca
aqui preso no aquário do tempo
no precipício de todo o rosto

pelas escadas desço endossando
os vícios de palha
aos astronautas em circulação

fivela de um cinto sem óculos
mistérios de flores azuis
pássaros no degredo dos eucaliptos
sombras de peixes-voadores

sem medo de mim porventura
lúcido, desço pelo gargalo
do insubmisso degelo 
subindo pelas folhas dos versos cor-de-rosa
- como tu



sexta-feira, outubro 16, 2015

Anos 10



Quadro nº 25
Um homem na paisagem
Tela,madeira tinta a óleo
33x27 



terça-feira, outubro 13, 2015

os corredores habitados



Um poema inconseguido 

um aluno que vai para a escola sem comer
uma manhã deslumbrante de serenidade
uma mãe que viaja  num choro sem saber 
um dia iluminado pela ansiedade

um amanhecer de amor  inconseguido
um amor fundido na cera do presente
um amor esmerado insucumbindo
uma esfera azul de um ardil reluzente   

um inconseguimento de vislumbre alucinado
uma alcateia de remorsos  num lago vazio
um remanso de amor  muito, muito educado
um cadáver de tédio que o poema sugeriu   
 
um inconseguimento de um conseguido sujeito
uma conseguida visão do inconseguimento
um estremeção no inconseguimento desfeito
um bate papo conseguindo tal,  introproducimento  




quinta-feira, outubro 08, 2015

Anos 10



Quadro nº 24
Um homem na paisagem
Tela,madeira tinta a óleo
33x27 

terça-feira, outubro 06, 2015

os corredores habitados



O amor em horas de ponta

O amor em horas de ponta
sofreu de uma congestão apressada
perdeu-se na multidão sem conta
deixou a cidade congelada

Tanto amor em sapatos altos
partido aos bocadinhos sobre as calçadas,
vai ela, deslumbrante, quase aos saltos
nos ecos da casa assolada

- meu amor,... que coisa ruim
que coisa assim  longínqua 
fica tão perto de mim
essa coisa de que não se brinca -