quinta-feira, fevereiro 25, 2016

os corredores habitados



O realismo da mente é uma capa  ou uma esponja absorvendo os mundos circundantes? -  interrogação esta que fica depois das baladas que acodem em catadupa. A alegria parece ser um pássaro pronto a partir, anda pelos ramos do dia, quando pousa no chão é para apanhar minhocas. Naquela sala onde confeitos de  gáudio espreitavam os sentidos  também se entronizava o saber; quando 8x9  era 81 soava um alarme de descrença, pairava no ar a esdrúxula enfermaria do erro, havia injecções de palmatórias sobrevoando as mentes – se pudesse pôr um emplastro à memória que redimisse os acontecimentos, naquela sala outra coisa não haveria senão felicidade.



A felicidade fustiga-nos pelas costas; - é uma frase que inventei  quando recostado olhava para a palavra, felicidade; -  foi num sussurro de acrobacia mental quando aquela se diluía numa almofada  onde é cuspida  como concha pelas ondas do mar num torvelinho de espuma dos sentidos. A felicidade dói-me quando a procuro,   injecta artifícios pela respiração, transforma-se num carnaval obsessivo, uma pulsão embriagada. Lembrei-me do D. Quixote!...ficarei por aqui?... 




sexta-feira, fevereiro 05, 2016

os corredores habitados



Os objectos retinem nos sentimentos mas os bisturis  não integram aventuras sentimentais, por isso, pairava sobre os olhares silentes uma alquimia de aventura desaventurada e ligeiramente oca. Tentei perceber onde habitava o meu entendimento,  não chegando  a tempo, este havia fugido, e aquele regressara  naturalmente ao seu estado de descodificação sem mérito. As palavras estavam perdidas na sua própria ausência, ficaram escondidas numa inoperância bucólica; pesando tudo isto mais que as pirâmides de  antigos Faraós, bastaria um leve sorriso, se o houvesse, para que tudo levitasse sem sobressaltos.

Estou sentado e escrevo. Teclo, na ponta dos dedos procuro, num olhar invertido, uma animação dentro dum coeficiente de incertezas, e, fora, olhando lateralmente leio:
- um pé descalço pela saudade adentro - está ali num papel “pintado”. - pelo lado invisual dos dedos registo o que leio, um pé descalço  e, retiro,   saudade adentro;  esta pertenceria por direito próprio àquele livro com os ecos da  melancolia despontando sobre os ribeiros,  o  Menina e Moça

Na folha de papel, sobre ela, num querido olhar, continuo lendo, - O outro lado do longe, - essa incerta bravura que nos circunscreve deixando vestígios na pele – um ciclo brevíssimo ao olhar, - digo, naturalmente alheio, sugado pelo vácuo das probabilidades.

O longe é uma metáfora do perto, quando este, apertado pelo cutelo da dúvida, abre espaços fora do entendimento. Na enfermaria, as raízes que deslumbram os corpos prendem-se às compressas, aos frascos de líquidos  medicamentosos como dedos que apontassem saliências e rugosidades à harmonia temporal, aos balcões onde se espalham os vernizes da nossa angústia. Balcões onde mãos de enfermeiras esfregam no bolor da vida.


segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Anos 10

 Ilustração do conto O Amor é uma Fuga sem Fim
 de Vitor Gil Cardeira    Desenho a tinta da china sobre papel
42x30    8/VIII