quinta-feira, março 31, 2016

os corredores habitados



Recito-me: a memória é um pesado contratempo rodando sobre o eixo da saudade; e alongo-me em interrogações; que posso eu fazer para construir membros aos corpos inanimados, obstar aos sulcos deixados pelos desgostos, desviar os regatos do desespero, abeirar-me das âncoras do inaudito? A voz que me sacode paira inerte sobre as lágrimas. Pode haver melancolia sobre as nuvens da alegria e daí convergir aquela, em rodopio, para o pôr-do-sol nas traseiras da casa agarrada à muleta do eterno. Esta a ficção, pelo teclado percorrendo o dedo, o braço bocejando, aponto o aqui editado, sem convicção. Esboroam-se os nervos num tempo sem cura.
 

Rosas de medo percorrem os corações dos doentes – qualquer pitonisa, mesmo sem entronizado diploma, acrescentaria essa parcela de destino aos indivíduos, rosas de medo – e, destino! preso à cadeira escrevo-o  na irrisão de si como um fecho-ecler desengonçado. Amálgama de incertezas onde os membros apodrecem aos poucos - uma circum-navegação de receios e fantasias, talvez ébrio fumo envolvendo os olhos dos pacientes na sala de esperas, cavaqueiras sentimentalmente mortas.


 Soletro noutra página:

Entre as flores lilases da amizade

Reina um supremo bem

Estar para além da factualidade

Não violar o mundo em desdém  



domingo, março 20, 2016

os corredores habitados



Elegia,  para um irmão 


Tu que partiste
desta luz que te viu
 - quebra o silêncio que deixaste,
em toda a rosa, que se abriu 




domingo, março 06, 2016

os corredores habitados



Estou sentado e vou escrevendo - nesta saudade de me vestir de luz dobrando as esquinas  dos  esconsos labirintos onde os poros dos poemas se perdem nas máquinas sem memória. O caderno aqui ao lado empresta-me esta ideia: - uma ferida no aquário do medo - a desmemoriada máquina centrifugando pesadas saudades  no interior dos corpo deprimido – projectado nas falésias da vertigem -  também aqui encontro, nestes  apontamentos, mesmo rente ao meu braço, no caderno.



Nada, é outra maneira de dizer, tudo - retido na mente este amplexo como uma ironia   certificada pela palavra, retiro-me;  o prisioneiro do lastro da  realidade consome-se pelos corredores de qualquer Megatério onde se incubam dores  em ligaduras, os sentimentos são sugados pelas narinas dos tubos até aos suspensos frascos dos plasmas, 



ossos, vaidade, espelho sem cristais

num juízo de carne abandonada

é o que resta dos campos vegetais

nas horas adormecidas, pela calada.    



quadra rascunhada numa folha A4, sobre ela relevando. Repito e respiro-a, cinzentamente.