A flor no vácuo
O sol roça-me pelas costas do viver, - é tão
agradável! – a usurpação dos medos onde a pele acaba e todo o éter começa –
haverá saudade tão grande como as esporas que açoitam as glândulas dos ardores?
– bem te digo, ò amor esclavagista, que as badaladas do dia ressoam obesas de
vida, sangram noites ávidas de açúcar, ladram aos cometas de amanhã; bem te
digo nesta crispação sem espaço que a velocidade que abarca as esferas treme
enlaçada aos meus desejos e o ventre solene de tudo isto é a minúscula voz que
esbraceja devagar.
Não há virgula no entendimento que me abrace perto
ou longe de religiosas bênçãos, caverna de mistérios, sim senhor – os enfados
sertanejos embebedam-me de vaidade mas as pulcras vozes rastejam solenemente.
Habito o sol sem deslumbramentos, a minha mão
adormeceu ao sabor das vitórias sem datas
avisa-me a Terra verde, e eu despido das vestes cruéis abraço a
embriagues poética vendendo saudades ao desbarato – sou poeta tão grande que
venho dos mares de sombra para a rudeza dos torrões agrícolas; - nem mar nem
terra, apenas o enterro que me espera como a verdade abismada de me querer bem
com o suor roçando as trevas.
Eu sei que dos teus olhos não se soltam clamores em
fogo nem o abraço renascendo sem fim, -
marginais ao eterno, beijando no corrimão do tempo os ossos nossos, um
outro beijo na manhã do crepúsculo derramado sobre a pele quente (acidentes de
um coração precário) devolve ao minúsculo dia a gota necessária – a flor no
vácuo.