Soneto com mote
Estou sentado e serei sempre igual a qualquer coisa
- um incómodo avulso numa
manhã fresca
- um grão de poeira
latente
- um sopro vindo de
dentro sem cadastro
- um outro que poderá ter
atravessado a inércia
Sou sempre igual ao estado imponderável das
sensações a que aspiro
- um fósforo que se
acende com um sorriso
- um halo extremoso circundando os cinco
dedos
- uma flor balindo num
campo arado
- as vestes de um verbo
nocturno adejando a pele
Se me levanto e interrogo o abstracto
- enterro a mão noite a
dentro
- voo com um cachecol de
lágrimas no bico
- deixo do lado de fora
o véu que me esconde
Estou sentado e sempre ao redor de mim me procuro em ser único
- o que me absorve sem ter
fim
- longe de ti no espaço
que une
- perto do pranto da luz
que brada
Estou sentado dedilhando nas estrelas ao meu alcance