Êú não sei o que dizer, pronto estava querendo falar
do meu ser de menino, nesse êú antigo onde dormia e acordava tranquilamente; o
êú que tinha a fantasia de uma bola de cristal por onde via as sombras de mim
subindo em animados fontanários; hoje quero voltar ai, de onde este
sítio desfalecido até àquelas margens sem cansaço e com olhos grandes de ver amendoeiras,
pinheiros e ninhos de pássaros com seus ovos mesclados de pintinhas coloridas;
pergunto onde estará esse êú, que quero animar-me de vê-lo, o que fez com a sua
trança de tempo, se é que amareleceu de um estio invernoso e se pasto é de mim
ainda
Êú quero singrar na avenida aberta desta comoção que
me leva ao dólmen dos meus braços, quando ainda de gatinhas pisava os arabescos
do que por ai apalpava, - se ê ú agora for de mãos dadas a esse meu encontro,
que silêncio de não encontrar ai algum êú, nem mesmo na esquina do meu olhar, -
sei agora que no berço pairava um pequeno fogo de revolta, uma acidez de choro
birrento, mau génio de rabo levantado ungido de desejos travessos, - meu corpo
será de uma fofinha carne, talvez já meu êú questionasse o porquê de não voar
se era pássaro na gaiola
Daquele nimbo de fofinha carne dizem-me que danado
me agarrava às maminhas de mulher amiga, e gulosamente as chupava, quando ainda
escurecido o ê ú se encontrava na tépida macieza da pele, - estava lá afinando
minha gula de pequeno vampirinho sugando a natada, mas nada disso recobra
claridade, o êú era ainda aquele nada do coração que bombeia e não palpita,
ânsia com sono de terra lampejando, foragido carocinho da líquida sala da mãe,
e se calhar era já fome do ê ú escondido nas rosadinhas faces, - chegado aqui,
olho e tudo foge, como se nada tivesse sido, nem caroço
Do meu ê ú pequenino restam esmorecidos fogachos,
nem azulados tão pouco, de amolgada lembrança, - será que ê se esconde debaixo
da pala mental, e ú assobiando passeia de lá para cá em contraluz de mim? - onde
procurar meu ê e ú senão na fofinha drenagem do fechado cérebro ou no sangue
que o levou ao coraçãozinho, logo vejo que ê ú não é pessoa mas duas letrinhas
apenas e que fazer com duas letrinhas acachapadas à janela do coraçãozinho estando
perplexo, - o êú quero mesmo se mudo e
não mais duas letrinhas for na garganta cabrita, - quero meu êú mesmo que só lânguido
velar no choro perdido no tempo