Outro mundo é possível - XI
Estudo para auto retrato 4/V - série/I
Desenho a grafite sobre papel 21x29
Janeiro 2020
Alguma vez foste tu? – eu nunca fui eu! - respondeu ele à pergunta que fez a
ele mesmo, o próprio. Levantou-se da cadeira, despiu o resto das vestes que lhe
cobriam o corpo suado, e deitou-se. Antes de adormecer completamente, ainda se
lembrou de questionar se estaria mesmo ciente de que nunca tinha sido, ele! Apalpou-se
na perna direita, assim por baixo do joelho, – pareceu-lhe acertado tentar
perceber-se, – junto à rótula; que naquele lugar corporal, seria mais sensível
a reagir a qualquer adormecimento muscular, se, o eu, acaso tivesse momentaneamente, apenas entorpecido
de vivacidade, resultante dum liminar estado de prostração solar; pois é aí que,
normalmente, o médico, batendo com o martelinho, certifica que o vivo não está
morto; – não! – respondeu uma voz, sobrevinda sensacionalmente por
uma claridade que se lhe abriu na mente, relevando daquele toque de pressão exercida sobre a pele desofuscada
–, sou eu, o calque sobre a pele e a anilina luminosa engavetada no nervo simpático, cavando
na carne esse ligeiro avatar de alguma lascívia, que és tu – disse a si mesmo,
com algum atropelo lavrado de sorrisos, a voz que isso sim, lho havia sussurrado, como um ligeiro assobio ao ouvido do próprio, ele mesmo! E adormeceu.