segunda-feira, janeiro 20, 2020

Outro mundo é possível

 
 Outro mundo é possível - XI


  Estudo para auto retrato 4/V  - série/I 
Desenho a grafite sobre papel 21x29 
Janeiro 2020 


Alguma vez foste tu? – eu nunca fui eu! - respondeu ele à pergunta que fez a ele mesmo, o próprio. Levantou-se da cadeira, despiu o resto das vestes que lhe cobriam o corpo suado, e deitou-se. Antes de adormecer completamente, ainda se lembrou de questionar se estaria mesmo ciente de que nunca tinha sido, ele! Apalpou-se na perna direita, assim por baixo do joelho, – pareceu-lhe acertado tentar perceber-se, – junto à rótula; que naquele lugar corporal, seria mais sensível a reagir a qualquer adormecimento muscular, se, o eu, acaso tivesse  momentaneamente, apenas entorpecido de vivacidade, resultante dum liminar estado de prostração solar; pois é aí que, normalmente, o médico, batendo com o martelinho, certifica que o vivo não está morto; – não! – respondeu uma voz, sobrevinda sensacionalmente por uma claridade que se lhe abriu na mente, relevando daquele toque de  pressão exercida sobre a pele desofuscada –, sou eu, o calque sobre a pele e a anilina luminosa engavetada no nervo simpático, cavando na carne esse ligeiro avatar de alguma lascívia, que és tu – disse a si mesmo, com algum atropelo lavrado de sorrisos, a voz que isso sim, lho havia sussurrado, como um ligeiro assobio ao ouvido do próprio, ele mesmo! E adormeceu.