Libertei o passado da escravidão de ter sido, Hoje sou o mesmo de outra maneira, O que não fui sem que isso me doa, O que querendo ser ainda hoje quero, Como a água do ribeiro que corria mansa, E que os olhos viam na manhã tranquila, Correndo hoje sem intranquilidade de ontem, O amanhecer do corpo com um senão de dúvida, Na algibeira o tempo limpo sem levantar folhas do chão, O zunido do vento como se fora uma verde canção, Tirar da memória os circuitos impecáveis, Como o chegar à Lua do pousar o pé, O conteúdo é apenas o ter sido, A redacção de português no caderno escolar sem jogo para textoalizar, Pedaço de pão comido que me trouxe até aqui, Tempo que percorro com voz subtil de ontem, Sem mós de moer o cansaço, Duvida que se entrega ao espaço desfolhado, Sou hoje o
outro tão perto de mim e o de ontem, Pé que me acompanha – tão de longe