numa oficina do LUGAR COMUM
"Uma imagem para um conceito: paisagem cultural."
Com o braço pousado
Sobre a pedra barrocal
Vejo o mundo dilatado
Num conceito virtual
Ó Natureza bruta
Tão delicada que és
Que dás deliciosa fruta
Pedregulhos com altivez
Tons vermelhos acetinados
Na luz sombrosa e esvaída
- Verdes e azuis encimados
Na paisagem colorida
Um quase branco rosado
Como um fruto marginal
Naquele braço ali plantado
Numa nesga horizontal
Aquele braço estendido
Sobre a pedra barrocal
Trás um novo sentido
A toda a gesta local
Pedra sobre pedra redonda
Naquele lugar escondido
Sobre a outra pedra longa
E árvores como um vestido
Um muro popre construído
Sobre uma laje navegante
Com um braço estendido
E um leve sentido flutuante
É com forte força visual
Que o braço está presente
Sobre a pedra marginal
Ali, na paisagem existente
Coda
Aquela quilha de barco no chão
Num mar da presa terra navegando
Neste lar sempre em transformação
É como volúpia de desejo forçando
Despir neve em triste coração
É mar silencioso de estar a ver
Aos olhos de um presente afastado
Ver a quilha dum barco se perder
No barranco do grés encarnado
Tão doces meus olhos estão nisto
Vendo na Terra todo o seu mudar
- Ao pensar que estou e ainda existo
Sinto meu colo de sonho a voar
Da personagem - encriptada
Rosa branca flor do mato
No sapal dos montes Hermínios
De nome que aqui não relato
Com saberes em vastos domínios
Posfácio
Na mudez aberta daquela solidão incerta a anciã natureza de tez agreste, de sonho verdadeiro e recto abre seu flanco de natureza crua, rompe seu calado ventre de insónias brutas e arguta robustez de viandante pesaroso e manso; asperge o pólen da verdade inteira sobre o manto diáfano e líquido – desperta as sombras das virtudes singelas, afaga o corpo, as raízes, o silêncio dela na beira dos matizes verdes e nos crepes da luz intensa; fragorosa rectidão do entalhe…
Aquele braço estendido
Abraçando a rocha dura
Grita por um ser unido
Nesta diversa natura
Faz lembrar a todo o mundo
Numa convulsão suspensa
- tens na união profunda
a razão de tod´a pertença
É de lá que tu vens
É p´ra lá que tu regressas
- tens nisto alguns porquês!...
mas o resto são promessas