Em Silves, onde vivi
não havia esta paisagem
- mas o Arade estava aí
e a Ponte era passagem
Quando fui professor em Silves
Nos verdes tempos que já lá vão
Tinha sonhos de muitos matizes
- Minhas sombras rolando p´lo chão –
Tinha densos amores imperfeitos
No ventre dos solenes arrepios
Cavando no corpo seus defeitos
Viajando nos olhos seus brios
O rio Arade tinha verdura
A serra tinha alabastro
Tinha a água aquela candura
Deixando nas margens seu lastro
A ponte vestia íntimos desejos
P´ra alcançar a outra margem
- Era como dar muitos beijos
Na água correndo selvagem –
E o sol cuspindo seus raios
Iluminando árvores e montes
Reflectia na água das fontes
Aquele azul sem desmaios
- Forças tão graves e solenes
Presos ao destino de qualquer mão
Deixando nos recônditos casebres
Nobres sabores de laranja e limão
Terra vermelha de sangue azul
Nos cumprimentos dos anos antigos
Prostrada nos braços do Al-Andaluz
Assomando ao presente pelos postigos –
Ó longes de um antanho pousado
Nos galhos dos laranjais em flor
Nesse Silves agora recordado
Lembrando um voar de condor