Nº 84 para poemas simples ;só as palavras me acodem só as manhãs me acordam; nota: será poema suspenso na atmosfera; à realidade questionável haverá um interrogatório necessário porque nos berços da realidade movem-se factos insólitos a entropia dos desejos junto às necessidades aglomeradas na base das pirâmides dão asas às revoluções das palavras nos escombros da poesia todo o Sol nascerá duma esponja.
Nº 83 para poemas simples ;em comoção me disperso nesse lugar de vozes da terra;
Nota: para esta poesia o poeta obrigatoriamente tem que ser agricultor fazer versos com folhas de alface regar as plantações ao luar fulvo das emoções entre uma plantação e um desejo aliviar o futuro sem remorsos na frescura dos cânticos zimbrados acolher as doídas vozes dos pássaros e, ao correr das fontes migratórias versejar, versejar, versejar!
;na porosidade do tempo construo a memória retalhada; Nota: deve ser um poema sobre a memória que habita na água
tópicos; - véus do corpo sobre a água salgada... - na inebriante escassez de luz revolteiam borboletas num caixão... - a azafama da luz nos poços da razão... - deixam...? - dos muros da minha saudade soltam-se velozes versos... - nasce do poema o tempo no sal da minha fantasia... - cresce em segredo a nua voz dos reflexos da calçada... - deixo que o tempo se desfaça debaixo de palavras de prata... - todo o lagar de som que trago no peito voando são alertas que vou deixando no solo de algum dom
a curiosidade deste poema será a desocultação das proposições: 1 - a poesia é a divida do amor? 2 - o amor é a divida da poesia? 3 - quando o amor nasce, ainda que invisível na cal da parede, deixará o corpo na incerteza da sua transparência, ou, a consciência desta incerteza torna o corpo opaco? 4 - a divida é a exaltação do luar quando a noite purga os devaneios queixosos? 5 - os afectos que as rosas lembram cinzelados pelos sopros dos queixumes deixam em divida as lembranças amargas? 6 - etc, etc. etc e tal!
Nº80 para poemas complexos ; do que o belo nos diz é sobre um naufrágio no universo" Nota: poema extremoso cheio de dádivas solenes e umbilicais um exemplo, talvez em forma de soneto: no sério estou por quanto no belo também adejo e encontro das palavras estrelas, vozes que se perdem em segredos de desdém por sobre os mastros das grandes velas os escondidos astros que à luz se escondem dentro das oceânicas noites em perfume impérios brutais - vozes do espaço alem das flores, sementes e algum estrume todo o belo é uma grande viagem sem desertos nas longínquas vistas que em dias solenes de estiagem dói, ver pintados sóis em perdidas revistas dói, sentir da alegria só a volátil paisagem dói, o quanto por ser só belo nos contrista
Nº 79 para poemas complexos
;se a dimensão do tempo me abraça porque não ir lentamente em direcção ao real?; Nota: não será propriamente um poema mas uma dissertação sobre o azul: azul, expandindo-se entre o olhar e as invioláveis galáxias azul, no sidéreo que se aproxima das tempestades azul, na marginalidade do tempo azul, no sistema de afluentes subterrâneos azul no percurso das correntes azul, em anorexia sentimental azul, rutilante sulfato de cobre azul, corroído pela lentidão azul, banal azul, balançando azul, infiltrado no adormecido azul, empobrecido na lavoura dos prémios mas, sobretudo - o AZUL liquido derramado pelas ampulhetas
; as lágrimas da minha pele soletram os nomes do teu corpo;
Nota: poema de pouca fantasia. da palavra, amor, deve-se esperar que derramada sobre as linhas do caminho de ferro suporte o peso de todos os comboios sentimentais todos os lugares enunciados terão a emancipação do corpo como bandeira e se por ventura houver cânticos das raizes nas montanhas os sulcos da amizade deixarão um rasto de cetim sobre as penedias não haverá no poema nomes sem segredos habitados dos olhos dos oceanos nascerão as rugas da plenitude e, com o corpo entre as mãos as lágrimas subirão aos ramos não há certezas de que do sal da pele não nasçam pássaros
Nº 77
para poemas complexos ;não há manhãs inteiras sem um fogo no coração;
Nota: todo o poeta é um sábio - mas, este título de poema só terá força emergente quando a solicitude abranger o anonimato; Desencontros que podem acontecer no interior do texto: - arranhar a garganta se as palavras forem muito doces, expl´s: o papa acariciou, gordorosamente, a criancinha a virtude está em ter asas adoçar o mel é despir-se de preconceitos por o concreto reagir virulentamente com o abstracto - o poema adornar,
exp´s: tico ticar no tico tico troca o troco da troca troika troca que troca trocando deixa o trocado voando
pelo uso muito do t ( soa a, "eles comem tudo...") - fricções com o real,
expl´s: navegar em águas profundas num mar de sombras ensombrado trás-me o coração nas penumbras deste aquele amor desvelado
oh, que loucura eu tenho neste indeciso amor, nele - todo me avenho, com calor calor calor por excesso de temperatura no clima poético ( na ordem concreta do poema dar-se-á ao esqueleto dum marinheiro navegando sobre o lume da terra um sino para anunciar as manhãs )
Nº 76 para poemas complexos ;quando sinto esta ânsia de literatura anoitada sabe-me a estar comendo alcatrão;
Nota: poema cavernoso singularmente velho e cheio de remorsos poema encalhado nas palavras sem perfume Dicas: sobre a mesa de cabeceira os litígios da amargura ganham um endurecido peso abraçado ao espelho da noite despede-se do nu amor, o poeta com palavras que irão para além da viva morte o alcatrão da noite estende-se sobre as estrelas da emoção só haverá sol na literatura depois de a terra bebida pelos ventos das hipóteses
DICAS; andando pelo super no mercado procura na/s prateleira/s inferior/es preços baixos às prateleiras sup/superiores o pescoço não chega o braço do poeta escondido num maço de algodão subentende o andar do carrinho com rodas de prazer o carrinho desliza pelo lado esquerdo da verve batom peúgas torresmos enlatados caixas de andorinhas esparguete com olhos enchem enchem enchem enchem enchem o açúcar nas asas duma borboleta na barra de sabão estalou na sensual embalagem de um creme para barrar o poeta hálitou para a prateleira sup/superior um odor a vinagre encheu os ouvidos do, chefe resmungou: - lava os dentes moço!...
;quando choro cai no chão a angústia dos espelhos;
Nota: só pode ser escrito por um poeta verdadeiro: que nunca tenha sofrido um beliscão pela crítica que nunca tenha usado sapatos à Luís XIV que nunca tenha escrito a palavra amor pelo lado do avesso pode usar versos brancos sobre superfícies vermelhas as vezes que forem necessárias ou versos vermelhos sobre superfícies brancas quanto baste sobre as angústias o poeta derramará cal viva
Nota pergunta feita pelo poeta dentro da nave do Mosteiro de Alcobaça dirigindo-se aos ecos da eternidade tópicos: ter é abastança de virtudes em injunção de esperança é mor saudade ter o que não tive perder o que era certo é incendiar desejos no deserto ter o que se não tem é ser outro em mim não o sendo porém se ser não é ter não tendo eu tido o que poderei eu ter sido num ser que não foi sen-tido
Nº 72 para poemas complexos: ;eu o outro e o mundo, a trindade terrestre;
um poema invisual o poeta ao escrever este poema tem que ter em conta a pirataria o sujeito poético deve estar escondido por baixo de nomes agridoces, dos exps. em limite - a beterraba reverbera na luz do olhar quando canta a Severa fado de mal amar - cântaros que ides vazios por baixo dos sóis ardentes refrescai os vossos cios nas águas não poluentes - tudo o que é já foi no tempo que há-de vir por baixo daquilo que soe por cima de todo o porvir
Nº 71 para poemas simples ; um vendaval cardíaco soçobrou no paraíso;
Nota: um poema vestido de branco com palavras vermelhas as cruzes da "cruz vermelha" entrarão suavemente no poema como rotina semiótica os sinais do coração adoçando nas vitrinas ambições em forma de rebuçados deixarão espaços abertos aos colapsos das palavras quando estas dispostas ao entendimento do secreto viajarem neutras num paraíso qualquer os vulcões nos cabelos do poeta ditarão atmosferas de sangue
Nº 70 para poemas simples
; o sentido da vida está na relação com os outros;
Será um poeta que, por o ser, não sabe andar na rua pois ele sempre tropeça em alguém quando escreve poemas Apontá-lo-ão. Quando sai à rua normalmente é preso. tópicos: ando p´rá frente ando p´ra trás encontro muita gente sou um bom rapaz dá-me as tuas mãos dá-me um beijo empresta-me o teu coração liberta o meu desejo
Nº 69 para poemas complexos ;o maior mistério do Nada é ser ainda alguma Coisa; Nota: O poeta deve entrar em meditação profunda, confronta o seu Eu envergonhado com o Nada vestido de palavras tópicos: Nada sou Eu se visto a escuridão da fome se deixo cair a alegria num oceano se a palavra amarga e entra com febre no corpo os cânticos da ausência caucionam a pouca lucidez
; se o mundo fosse um caos não havia flores; é um poema para ser esculpido sobre um incêndio na consciência poderá haver rugas no caos da memória mas da terra não virão remorsos as formas do desejo habitarão o coração das flores só a manhã dos lacraus ajudará o poeta a viver sem armas e do tempo a ébria amargura reverdescer é por engano das palavras que o caos acontece no poema
Nº67 para poemas simples ;sou um velejador de palavras;
Nota: poesia sem alicerces para poetas com poucas ambições poéticas, vagamente seduzido como o vento soprando na monotonia num largo espaço de escuridão velejando palavras em sinfonia no poeta, um sonho, em contra mão
Nº 66 para poemas complexos ;sossegado coração entre as pedras do nevoeiro;
Nota: este poema quer-se com alguma leveza, todas as palavras devem falar baixinho deve o poeta cirandar entre o algodão das palavras qualquer pedra que entre no poema - ainda que por acaso, ficará suspensa no olho triste adjacente ao espaço azul dum quadro de Miró no colo do alfabeto ministros ficam à porta molduras com ar de passagem sossegarão pulsações outonais
Nº 65 para poemas simples ;porque os poetas nas suas andanças tecem as palavras como se fossem tranças;
Nota: deve ser um poema simplório para se ler entre as audiências: andanças deve rimar com finanças muitas vezes esperanças com tranças algumas vezes multiplicação das contundências com relatórios das exigências tropos da poesia matinal assinalam justa elegância verbal; - finura de som na catedral nas palavras duras e de vegetal
Nota: Um poema residual construído com artefactos: um pente soprando nos ouvidos uma lanterna acesa no umbigo uma caixa de dominó em forma de cansaço sob a largura da voz a memória de ontem à verdade escondida no andar debaixo o poeta acrescentará os resíduos do futuro aquilo que o poeta foi será contado em segredo aquilo que o poeta será será exposto brevemente
;caminhamos sobre um fogo infinito se nos querem totalmente abstractos;
Nota: poema para ser escrito por Poetas do Deserto tópicos: ventos que eu queria anexados soprando dos exílios matinais, aos lugares não indexados nos mapas dos fogos infernais areias de alegria infinita em horizontes dunares, nos olhos a areia grita ondulações dos duros lugares caminhantes sobre um fogo infinito em desertos humanos pernoitados sob o duro peso dos atritos somos, mas não seres abstractos
Nota: aconselha-se o Poeta a escrever este poema somente no Inverno, pode estar em "pantufas" junto a uma lareira. Deve todavia acompanhá-lo um extintor e garrafinha de medronho. tópicos: - as palavras queixam-se do vazio da garganta têm ciumes das palmas dadas aos teatros da vida - a figura hábil que transforma o cálice da solidão em terreno arável queima nas pontas dos dedos - as serpentes dos olhos ofuscam as papoilas tangem lágrimas a terra arde pelos regos aljofram palavras
Nº 61º para poemas simples: ;na catequese da inocência desdobram-se bruxas a voar;
é um poema fechado dentro duma caixa de bombons "Come chocolates, pequena; Come chocolates!..." - é dedicatória aos náufragos que escrevem e aguardam...,deve figurar na etiqueta
exorcizar os afectos ocultos nas encruzilhadas o poema será escrito com azeite virgem sobre cendal
tópicos: quando a voz se acende no silêncio do corpo é posse que se estende de mim a outro outro no corpo abrasada pela voz acidulada mostro-me para ser o que antes não era nada sou a voz que me oiço no sentir actualizado sou ainda um escorço do que havia pensado ainda a voz não é finda cresce uma fenda rasgada pela saudade que é vinda nos crepes da palavra amada
Nº 59 para poemas complexos ;quanto viver em vão nos andaimes da luz pendurado; Nota: eis um poema que não deve ser escrito; vão, tanto pode ser do verbo ir, uma viga ou actuar sem resultados o poeta não pode solicitar a ambiguidade do verbo viver em vão pode ainda resultar em viver-em-vão-de-escada necessário será que o poeta retire a escrita ao poema
Nº 58 para poemas complexos
;as palavras têm o corpo desesperado se na ambiguidade das cavernas flutuam;
Nota: gere-se por uma aliança entre o escaparate de um vazio e o olhar para o silêncio do sujeito poético haverá circunstâncias quiméricas fracturas galopantes benesses às palavras adjectivos circunstanciais de modo adverso e totens o poema deverá ser um um exemplo
Nota: deve ser escrito com muita ponderação qualquer pode sentir susceptibilidades deve-se começar por libertar o tempo dos cristais da memória semântica narrativa com rabo-de-cavalo é para deitar fora a verdade do poema deve estar em transição - entre o significado imaterial e a matéria do pensamento todos os versos devem pairar sobre uma angústia do verbo amar
;a poesia é para todos não é tertúlia com saltos altos;
Nota:
o poeta ao escrever este poema não deve rir mesmo que o Sol lhe faça cócegas concentra-se nas palavras alagadas de suor
inventa canções para as crianças dormirem suprime os alfabetos arcaicos a linguagem animar-se-á dando corda ao texto a nitidez do olhar nos contornos das soluções encontradas dará aos vários interlocutores minúsculas sensações poéticas sem retorno mas não apagadas aos olhos de todos
tópicos: um cão um poeta uma mulher ferida pela saudade um adolescente um alcoólico esbracejando uma mulher deitada sobre uma mesa um visionário bocejando um clínico com um osso debaixo do sovaco um comerciante com um cesto de ovos um pastor três ovelhas um coelho de orelhas espetadas mais três outros indistintos na contra luz e um místico um adivinho um futebolista um praça cantavam juntos a alegria póstuma das deles juventudes uníssono andamento martelando no chão, brilhava no oco espaço o imperfeito silêncio que havia nas, de cada vida