sexta-feira, fevereiro 05, 2016

os corredores habitados



Os objectos retinem nos sentimentos mas os bisturis  não integram aventuras sentimentais, por isso, pairava sobre os olhares silentes uma alquimia de aventura desaventurada e ligeiramente oca. Tentei perceber onde habitava o meu entendimento,  não chegando  a tempo, este havia fugido, e aquele regressara  naturalmente ao seu estado de descodificação sem mérito. As palavras estavam perdidas na sua própria ausência, ficaram escondidas numa inoperância bucólica; pesando tudo isto mais que as pirâmides de  antigos Faraós, bastaria um leve sorriso, se o houvesse, para que tudo levitasse sem sobressaltos.

Estou sentado e escrevo. Teclo, na ponta dos dedos procuro, num olhar invertido, uma animação dentro dum coeficiente de incertezas, e, fora, olhando lateralmente leio:
- um pé descalço pela saudade adentro - está ali num papel “pintado”. - pelo lado invisual dos dedos registo o que leio, um pé descalço  e, retiro,   saudade adentro;  esta pertenceria por direito próprio àquele livro com os ecos da  melancolia despontando sobre os ribeiros,  o  Menina e Moça

Na folha de papel, sobre ela, num querido olhar, continuo lendo, - O outro lado do longe, - essa incerta bravura que nos circunscreve deixando vestígios na pele – um ciclo brevíssimo ao olhar, - digo, naturalmente alheio, sugado pelo vácuo das probabilidades.

O longe é uma metáfora do perto, quando este, apertado pelo cutelo da dúvida, abre espaços fora do entendimento. Na enfermaria, as raízes que deslumbram os corpos prendem-se às compressas, aos frascos de líquidos  medicamentosos como dedos que apontassem saliências e rugosidades à harmonia temporal, aos balcões onde se espalham os vernizes da nossa angústia. Balcões onde mãos de enfermeiras esfregam no bolor da vida.