Soergo a vergonha do olhar à vileza do prazer; direi do
assombro, da natureza invulgar da combustão, das metástases violentas desabando
sobre a sofreguidão, as formas esquinadas neutralizando a luz; haverá espaço
para a floração das palavras? - abundam os consultórios da subtileza, a nobreza
das calorias, os ecrãs da navegação dos sonhos, os ruídos do efémero; a arte
será viável? – a ratoeira do inexplicável dará azo ao suicídio, ou à ternura
máxima? – aos versos do apocalipse ou à brancura da voz? – lembro que vou
caminhar no esconso da vileza, na exumação da mentira, na gota de água de um
rio, - só haverá paz quando adormecer ao
relento da tempestade. – sobre “ as flores do mal” só os sonhos inventados
queimarão as pálpebras, rasgos da melancolia e febre das pulsações
Amor
abre-me aos oráculos da vida
Mãe
despeja teu corpo no meu
Pai
abraça-me no inverno
Navego com a escuridão, com os olhos presos às areias, o
peso do corpo soterrado; a brancura da cal é um exercício de febre, a nudez da
parede a minha paixão; - digo que caminho sobre o cemitério do tempo e a sua
luz, vibração do som e a sua negrura, sobre as fábulas da morte e o seu casulo
Figo
o doce sabor e o seu peso
Trigo
aurora dos meus olhos
Terra
berço da minha emancipação
Dou voz ao mercúrio das feridas quando as palavras
adormecem, se canto olho os interstícios da luz; será que os olhos vêem a
estranheza, criam esferas nos cânticos da garganta? – as pequenas palavras
desdobram o seu corpo, resistem aos impactos da embriagues
Vinho
a tormenta do sossego
Dor
enlutado ser
Morte
a troca da pele madura
as pequenas palavras são as mais poderosas
rosa
jogo
fim
lugar