Aos colegas da Escola António Arroio
Subindo a escadaria de pedra alcançado o pátio ligeiramente superior, à direita, fica a sala de pintura, – alçada ternura de encontros; a pequena sala desdobrava-se em ondas com os afazeres nas horas dedicadas ao riscar no papel cavalinho e cartolinas ou retirando os pigmentos dos boiões de tinta depositando-os nas paletas, – pétalas da jardinagem solene; sentia-se a vibração escancarada nos olhos ao tocar a ponta do pincel nas superfícies ainda brancas dos suportes; no espaço interior do cubículo fervilham adornos ávidos de sensações coloridas com os dolorosos artificies das artes alinhavando amostras de pequenas composições, emblemáticas formas naturais ou inventadas, – embelezados festins de tintas;
entre os alunos reinava um desafio sincero pendurado numa alegria festiva; estava-se num palco representando cada um o seu calor afectivo tão comovente como a audácia dos primeiros passos, – éramos meninos jardinando pétalas;
se o professor reinava era como um ouvinte quase piedoso e amigo acompanhando as esperanças ruidosas dos futuros artistas, que inquietos, se agitavam como borboletas ziguezagueando em busca do pólen, da emancipação dos olhos e das mãos.