Ver chover! - abraço a chuva como suspirando por um amor, um canto telúrico ou a embriagues do sol; ela cai rumorosamente ou sem rumor na vidraça aveludada em frente, é um cristal aéreo subejando da nuvem pagã e altaneira na verdade dos astros lá no alto; precipita-se obliquamente sobre líquenes ou a terra que a aspira gulosamente; ansiosa ela sufocativamente grita em turbulência de vapores exalados; cheira a húmus, a fertilizante dos beijos e dos caules das plantas; das línguas rizomáticas soltam-se os sabores acetinados dos vinhos e dos elixires em esdrúxulas conversas de amotinações dos vendavais; as chuvas deixam nos vidros os riscos da inquietação generosa das lembranças, amortizam a queda das palavras opacas e pesadas sobre o estendal da saudade; a paisagem é a varanda sobre um lençol bordado a lágrimas.
terça-feira, janeiro 26, 2021
Anos 20
Paisagem - Pintura a óleo sobre tela III
40x50 - 2020