Ver chover - 2
Ver chover! – escrever na transmutação da arrebol; o céu está cinzento e nas vidraças escorrem os áureos torvelinhos de água, escamosas e escorreitas deslizam as lágrimas invernosas dando voz ao espaço, saudação melancólica de bravura aos risonhos verdes das plantas – palacetes da natureza plasmados nos horizontes; é aí que florescem as sonolências do coração, as vibrações do entendimento e do orgulho distraído das emoções; agora, a luz clareia os níveis da constatação e as flores das amendoeiras soltam-se sacudindo o horizonte perdido num frenesim de brancura, os esconsos das alfarrobeiras escondem os espaços amargurados; a natureza titubeia na invernia dolorosa do prazer e da beleza prosaica; um cariz acidulado de bruma veste todo o campo, os montes, os vales abnegados da ambição, as tortuosas raízes dos descampados; amortece o esplendor dos sorrisos numa cave de silêncio liquefeito, sobraçando a fluidez das poças de água, – reflectida atmosfera libertária.
Mais um minuto e a desenvoltura da sedução, cai!