Leio no café…, eternamente! – abro no calendário do tempo os
segredos calorosos, as virtudes mefistofélicas dos espinhos, as águas
estagnadas dos nervos; desejo involuntário de percorrer campos de sedução,
abismos da memória ou simplesmente traços, arranhões dos olhares; tudo são desvios,
perfis suportados pelos alentos procurando a sintonia do fogo com a água, beija-mão
do encantamento como sinais de todo o universo na voracidade de um labirinto
azul; sujeito à delicadeza das pestanas verifico os assuntos amorosos, os
contratempos na rotação do sol, os atritos da fantasia; enxergo as translações
dos vícios deslizando pela palma da mão, por vezes rebuçados manhosos de avidez
intolerante; docemente aconchegado na eterna paixão abro o leque de visões dos
crepes do viver com abordagens de carrossel – é a densa matéria porosa a si
mesmo aquentando o impacto do sofrer, a ligeireza da nuvem negra alijando a sua
malícia num fervor de glória e abstracção; lívido me encontro na irmandade
pungente, na tacanhez do sal dos olhos, nos corações amortecidos como ramos de
oliveira no chão caídos; vou lendo com olhos de descanso e solicitação, como
passageiro volátil, como viandante canhestro e presunçoso circunscrito pela
fulva escrita; abro o tempo à lucidez da imagem nesse fogo de consternação e
alegria sobrevindo da comoção, da entoação sonora dos opúsculos invisíveis como
laranjas ainda na flor; é um olhar de minúsculos avatares entrosados com as
pupilas do coração rente às mãos quentes do papel, às vírgulas dos entreténs
dos sonhos; inóspitos e solenes são os abraços sem memória na inépcia dos dias,
nas íngremes curvas dos beijos derrapando nos ossos das querelas afins e
absolutas; tudo são olhares num delíquio sulfuroso derretendo a matéria porosa
e salivante, sementes dum infinito passageiro como a pele dum fruto insondável.
Leio eternamente no café resguardado na perenidade da escrita, na força da
escultura de bronze resgatando do seu peso a delicadeza da forma no esverdeado da
floresta dos termos.