segunda-feira, fevereiro 14, 2022

Outro mundo é possível


 

 Exercício de poder
Pintura a acrílico sobre cartolina
100x70 anos 80

 

 

Estudo para uma escultura
Desenho e aguada de aguarela sobre cartolina
35x35 Anhos 80
 

Nasci timorato, e mordem-me na pele os obuses, as glândulas do meu corpo andam desavindas com as flores de amendoeira; não sei da perturbação os cânones que a informam com a constância da película do medo no horizonte; a verdade existe, mas como uma protuberância do mal; e, eu queixo-me de mim mesmo como o eco dum sapo no sapal, - coaxar arredondado de chamamentos e febre da noite; entanto, viajo com a saliva do tempo num fortuito deslizar de emoções; umas lívidas como a morte duma andorinha, outras como um botão de rosa por abrir num quintal adormecido, uma varanda de luz doída ou ainda pela solidão dos astros se a noite abana

Quereria ir ali, somente, e encontrar um amigo, amiga, um braço estendido para a alegria do olhar, o contacto da pele com a voz circundante e concluir da leveza dos nossos passos entrando em casa, quando a há; o calor deste tempo azeda o umbigo das gentes corroendo as calçadas dos passeios, o meu! –, e eu nasci timorato!?

As balizas do tempo sopram enfunando as fronteiras do corpo como estátuas de mercúrio, paixões agregadas à matéria volátil dos objectos, dos acrílicos metafísicos e dos seus despejos nos mares oceânicos derrotando a sua magnitude, esse nosso orgulho! – e o suicídio manifesta-se como uma âncora da salvação? – um lento desarticular dos ossos nas encruzilhadas dos desertos, um esgar no olhar de estátua  no pedestal de jardim despovoado; enfatuados sonhos de misericórdia abarcam as águas dos delíquios cíclicos; brejeiros espantalhos nas florestas derrubadas inundam de silêncios e acrobacias o canto das aves, o chilrear dos objectos vagos nas prateleiras das cozinhas, caroços da emancipação dos braços no labor diário; desfrutando a alegria das abelhas no seu frenesim ditam sentenças de alumínio nas comunidades dos cozinhados com o tempo abeirando-se da sua rarefacção no círculo pusilânime dos afectos; serei humano nascendo timorato ao olhar agudo das cicatrizes? – o corpo nasce redondo de ansiedade, faz sombra ao real como uma pedra mordida pelo tempo moldando o haver.