domingo, abril 10, 2022

modelações I



Poema desenho - caneta de aparo com tinta da china sobre papel

  42x29 2016 

 

Modelações - I -

 

Escrever, um exercício feroz –, deixando um rasto inabitável ou um tronco de melancolia imersa no continente de todo o apreendido dicionário, reverbera em silêncio, naturalmente audível; e, de tão frágil e belo no seu voo, facilmente adormece na secura invejosa do ser quotidiano, assim como pedra perdida num caminho de aflição, debaixo da canícula.  

Um eixo de brandura da voz é um alívio!... revestida da gratidão possível num romance de nervos acústicos desdobrando esse corpo para fora de si, arreigado ao espaço circundante.

- Todo o som enaltece a razão somente porque dá corpo ao vazio; – o crepúsculo sentimental enovelado pairando sobre qualquer acontecimento, como no exemplo de um mocho piando na noite; - tormenta que se assobia no interior dos zumbidos da escuridão para que a alegria regresse do eixo solitário, e, no seu espelho, ele já sujo das lágrimas vertidas surja, ainda que em delírio ou num recuo, em agonia assomando à esquina de todos os verbos mundanos.

-  Habitante do vocabulário e do cosmos como se sentinelas estrelas, cintila para cada um de nós adulando a memória exausta, e só em exercício feroz descobre nesgas do rosto esfaimado.