Abrindo a voz, ouço os recônditos objectos que nela falam; o obscuro silêncio é luminoso e a mão que o segura desenha os seus contornos;
– ossos, abre na noite o tumulto dos olhos, despe o noivado dos encontros, respira fundo sobre o degredo – manhã, ó rosas desmaiadas nos jardins suspensos, canto dos canteiros cantando nos átrios das mansões, flor ou o delírio do envolto na penumbra do centro certo, para lá da pétala o adeus ao vento, ó sonho da noite que acorda – rosto, toda a navalha cinzelando o aberto, que dizer das pestanas vivas como agulhas, bocas como fogo nas mãos desertas, em ti sopram em tormenta os desígnios juvenis, e as faces dançam na madrugada dos sóis, despem-se em aromas os quase mudos sorrisos – verde, toda a árvore é um desejo, o chão vestido cantando, um avental cobrindo os nervos sedosos que no terreno esburacam – fósforo, lenta dor que vegeta no silêncio, pedra dos amantes que naufragam e se consomem na combustão dos olhares, rumores de um presente anoitecendo nas favelas os lumes dos vivos – tabuada, ó glória do saber abstracto e singelo, toada mortiça dos rabiscos nas ardósias, palmatórias subindo das entranhas como venenos da saudade – alecrim, diadema do fogo nas noites de camurça saltando à fogueira, tonturas do vento em vertigem romanesca, nas labaredas ouvindo os sustidos sons das lágrimas, o crepitar dos desvalidos e dos amantes
Na palavra o imenso apaixonado abre-se, fustiga o coração como o canto das canoras aves, busca o fazer das mãos enquanto os olhos ardem como cavalos nas montanhas – o óbvio é um objecto sem destino.