domingo, maio 25, 2025

modelações XXXVII

 

 
Ausências
 Pintura a óleo e lápis de cera sobre fundo de madeira
 96x64 Anos 10
 
Vogando no sentido aéreo da existência, na transparência da emoção sob as curvas desenhadas dos jardins, sobre a relva, debaixo dos ramos e sua sombra projectada na glória dos tímidos passos; tilintando as pegadas, esfregando os lençóis dos desejos, despojos dos sonhos ultravioletas acomodando as ambições veneráveis dos sentidos como substância palpável; andar de esquecimento à parca realidade circundante, volátil abeiramento do outro e suas glórias verticais ascendendo, mitigando; – sigo a névoa deste caminhar, pisar dos meus passos deambulando na irmandade do folhedo; jardim de árvores roçagantes incendiando a auto-estima na praça pública; alegre ribeiro dialogando nas margens; o cheiro do alecrim nestas palavras, digo, torpedeando os seus segredos, os seus ângulos secretos que mansamente nos atormentam; esta púbica saudade de mim sem transe no vértice prosaico da hora, arrumando o quarto de lua no átrio da casa; o corpo desolado num arco-íris permanecendo intacto e fortuito, fermentando na lonjura, esponja de sangue abreviada num tempo de dúvida e sigilo; os continentes da solidão movendo-se na incerteza das promessas –, corro, e regresso entre os ramos que me adornam como coroas duma alegria sustida, suspensa e balançante; surdina de emoções roçando a pele como pássaros cantando nos nervos –, Ó pureza suplicante ajeitada à planta dos pés que caminham na sombra das rosas e dos temores; espigas, tão duras na manhã silvestre, caindo este prazer no chão que a terra veste; flores do campo que me olham no lilás dos seus olhares crescendo, balão ao som dos ritmos banais e destruidores; torturar a realidade, procurando-a como formiga no carreiro, dar voz ao silêncio sacudido pelas palavras. Mutilados encontros.