segunda-feira, setembro 27, 2021

Outro mundo é possível



Estudos - Construção dum espaço I,II – 29.5x20.5

Desenho a grafite sobre papel - 2020

Subtrair dois dedos de existência à realidade digital, esse enigma de contornos duvidosos onde as pulsações são esferas diluídas dos nervos, quietações cerebrais dos crepúsculos sem rosto e sem tormenta; informes estruturas do virtual como anátemas duma consciência viva e precursora funcionando em aberta relevância solidária; - ó deuses de naftalina oriundos das margens dos nenúfares, dos assobios dos arroubos fortuitos, das cruzadas insanas como cânticos dos arrepios do medo! - sujeitos de acção elevando braços à estatura dum sopro ou da consternação, signos insatisfeitos da mobilidade, sobreleva neles o verde casa de qualquer sonho, a matéria porosa dos músculos ou a verdade dos trilhos ocultos; mão pousada sobre o joelho em lágrimas, não a violência do efémero sobre a nudez da carne beijando o chão da memória elementar nas vertigens dos primeiros passos, desabrocha a veemência da soberania.  

       


quarta-feira, agosto 04, 2021

Outro mundo é possível

 

 
Ser virtual com paisagem ao fundo
  Pintura a óleo sobre placa de madeira e tela 
85x1000  - 2021
 

Cruzo as avenidas pelo lado da incerteza, inúmeros os passos que voam, inúmeras as alegrias do fogo; passo a passo cruzo, encontro os sons que chocam com os arbustos; os desertos da passagem do tempo e também as andorinhas da Primavera; nas avenidas os passos encontram as lamúrias dos desastres, suspendem as horas de luto acomodando-se às incertezas; indo pelo passeio as folhas caídas enrolam-se ao destino, viajam numa quietude de amargura sonolenta, doída e mole, como cera derretida pelo fogo que ilumina – pequeno astro de cintilações pusilânimes; o passeio na avenida é um verde de absurdo opaco, a glória da fantasia que anima; se um dia passar para o lado de dentro da escuridão, como viajarei? – é na avenida que o andar é um mastro da solidão com argolas do destino prendendo a felicidade; o alheio de mim, num cruzamento de atordoamento e precipitação incorporado aos passos soltos, na manhã solarenga; cavando nas formas abstractas da imaginação solto os pés como pássaro da madrugada afogado em chilreios breves e contínuos – corpo reluzente de finuras, de arabescos da vaidade sacudindo a atmosfera vertiginosa e eléctrica; percorro o frio do calcário secretamente absorvido pelas frestas duma amizade de qualquer coisa, - talvez uma laranja, uma formiga empurrada pelo vento ou uma gota de água no oceano; há um calendário sinuoso no vazio das palavras que se acolhe às legendas da emoção; tecido flutuante como vela críptica dos músculos procurando um voo no precipício; um passeio é um rasgão na tristeza; um círculo de entusiasmo finíssimo nos arredores da pobreza.   

       

sexta-feira, julho 23, 2021

Anos 20

 Pôr do Sol  visto do atelier IV

Pintura a óleo sobre tela 40x50 - 2021

Viajar em feérica  mutação; os olhos apaixonados visitando de chofre as cadências luminosas, os fluxos de luz delirando de nudez; a visita da terra ao corpo adensado; uma mão abre-se às palavras movimentando a língua das águas na espraiada planície; os vocábulos contornam a periferia da matéria fechada - os sorrisos das árvores abertas aos crepúsculos soberanos; do sonambulismo acústico devêm ervas musculares soltando-se da prisão, - falhas da vista debruçadas sobre a implume matéria; o natural dos ossos, da carne e da terra como amoras silvestres soltando-se da pacatez e das miúdas carências; a argila rasga-se nas vozes das arbustos, árvores de troncos robustos visitam a planura do tempo nas retorcidas volutas, - volumes que cantam dores das raízes; fábulas dos seres que peneiraram os frutos maduros: - esta evocação diz - peneiraram? - é a voz das sombras subindo dos astros da memória, da elegância do destino enredada às mãos fazendo renascer a época das searas nas leiras terreais; as pedras não vertem suor! o caminho é um corredor ondulante ajoelhado à comoção por aí viajando nos pequenos dizeres da fala como cão salivando de fome, - abuso da vertigem dos olhos; o campo é o nosso corpo do lado de fora visto por dentro com a luz produzindo os seus sulcos de alegria no passar imorredouro, - violinos da emoção as árvores bailam.    

         

domingo, junho 20, 2021

A eternidade é um instante

a eternidade é um instante VI

 Pôr do Sol  visto do atelier I

Pintura a óleo sobre tela 40x50 - 2020

 

O tempo vai andando 

Com seus passos sem fim 

- o nosso vai acabando -

Toda a vida é assim

 

Primeiro é o andar lento

Pouco a pouco vai apressando

Chega por fim o momento…

- Pensam vocês que direi - acabar!

 

Com muito ou pouco contento

O viver continua andando

E o tempo continua a passar                

 

A vocês muito obrigado

Comprido seja nosso viver…

É este querer o meu legado

Que aqui fica ao escrever

 

 

sábado, junho 05, 2021

Outro mundo é possível

 

 

Humanos virtuais com paisagens ao fundo

 Técnica mista - óleo e lápis de cera - 88x63 2020


Sempre

que  tão perto estás da quimera 

despeja neste prazer flutuante o teu desdém

mostra a tua arrogância duradoura ao coração


Bebendo do inexorável fluxo

ligo este assunto ao ébrio éter

- como habitar a torre e o seu éter

-como  o chão morder e renascer

- como  na angústia derramar o calor do mundo

 

Uma árvore é o nosso pão

Um beijo a nossa crença

Um soluço a nossa morte

 

Uma folha de árvore cai sobre a sobranceria

fere o orgulho da multidão ou a assinatura do herói

 

 

sábado, maio 29, 2021

A eternidade é um instante


a eternidade é um instante V

 

Foto I
Foto I I
 
  Foto III
 
 
  Foto IV
 
 
Foto V

  Foto I, II, III e IV. de Adão Contreiras - foto V de Thomas Erfurt

 

ela foi-se

tão esmerada na sua violência doméstica

uma cadela como qualquer outra

Prostrada sem remédio no solo

num suspiro a vida abandonou-a

Regressamos ao infinito à planura sem dor

quando a voz emudece

e a lasca subterrânea de qualquer osso, voa!