sexta-feira, julho 23, 2021

Anos 20

 Pôr do Sol  visto do atelier IV

Pintura a óleo sobre tela 40x50 - 2021

Viajar em feérica  mutação; os olhos apaixonados visitando de chofre as cadências luminosas, os fluxos de luz delirando de nudez; a visita da terra ao corpo adensado; uma mão abre-se às palavras movimentando a língua das águas na espraiada planície; os vocábulos contornam a periferia da matéria fechada - os sorrisos das árvores abertas aos crepúsculos soberanos; do sonambulismo acústico devêm ervas musculares soltando-se da prisão, - falhas da vista debruçadas sobre a implume matéria; o natural dos ossos, da carne e da terra como amoras silvestres soltando-se da pacatez e das miúdas carências; a argila rasga-se nas vozes das arbustos, árvores de troncos robustos visitam a planura do tempo nas retorcidas volutas, - volumes que cantam dores das raízes; fábulas dos seres que peneiraram os frutos maduros: - esta evocação diz - peneiraram? - é a voz das sombras subindo dos astros da memória, da elegância do destino enredada às mãos fazendo renascer a época das searas nas leiras terreais; as pedras não vertem suor! o caminho é um corredor ondulante ajoelhado à comoção por aí viajando nos pequenos dizeres da fala como cão salivando de fome, - abuso da vertigem dos olhos; o campo é o nosso corpo do lado de fora visto por dentro com a luz produzindo os seus sulcos de alegria no passar imorredouro, - violinos da emoção as árvores bailam.    

         

domingo, junho 20, 2021

A eternidade é um instante

a eternidade é um instante VI

 Pôr do Sol  visto do atelier I

Pintura a óleo sobre tela 40x50 - 2020

 

O tempo vai andando 

Com seus passos sem fim 

- o nosso vai acabando -

Toda a vida é assim

 

Primeiro é o andar lento

Pouco a pouco vai apressando

Chega por fim o momento…

- Pensam vocês que direi - acabar!

 

Com muito ou pouco contento

O viver continua andando

E o tempo continua a passar                

 

A vocês muito obrigado

Comprido seja nosso viver…

É este querer o meu legado

Que aqui fica ao escrever

 

 

sábado, junho 05, 2021

Outro mundo é possível

 

 

Humanos virtuais com paisagens ao fundo

 Técnica mista - óleo e lápis de cera - 88x63 2020


Sempre

que  tão perto estás da quimera 

despeja neste prazer flutuante o teu desdém

mostra a tua arrogância duradoura ao coração


Bebendo do inexorável fluxo

ligo este assunto ao ébrio éter

- como habitar a torre e o seu éter

-como  o chão morder e renascer

- como  na angústia derramar o calor do mundo

 

Uma árvore é o nosso pão

Um beijo a nossa crença

Um soluço a nossa morte

 

Uma folha de árvore cai sobre a sobranceria

fere o orgulho da multidão ou a assinatura do herói

 

 

sábado, maio 29, 2021

A eternidade é um instante


a eternidade é um instante V

 

Foto I
Foto I I
 
  Foto III
 
 
  Foto IV
 
 
Foto V

  Foto I, II, III e IV. de Adão Contreiras - foto V de Thomas Erfurt

 

ela foi-se

tão esmerada na sua violência doméstica

uma cadela como qualquer outra

Prostrada sem remédio no solo

num suspiro a vida abandonou-a

Regressamos ao infinito à planura sem dor

quando a voz emudece

e a lasca subterrânea de qualquer osso, voa!

 

 

sexta-feira, abril 09, 2021

Outro mundo é possível

 
 
Estudo Ser Virtual 8 – Desenho a esferográfica sobre papel almaço 
– 29.5x20.5 – Pasta Estudos I – 2020

 

 
Estudo Ser Virtual I – Desenho a grafite sobre papel almaço 
– 29.5x20.5 – Pasta Estudos I – 2020


GAZETA DE POESIA INÉDITA

05
Abr21
 

ADÃO CONTREIRAS - CALEIDOSCÓPIO

 


Vertigem
Quando a sombra do desejo abarca a tormenta

Viagem
Se a noite permanece quieta e doce e gloriosa

Vestígios
Quando o eco do amor ainda sustem as abas da amargura

Vórtice
Lingerie nas montras das apps e das gargantas fundas

– assim a dúvida sustida dos inacabados séculos ante a doença
 das manhãs incríveis e o ardor das flores silvestres
 
 
 
 

segunda-feira, março 01, 2021

os Corredores habitados

com o Pedro Morais  - e, outros
 
 
Exposição colectiva de "Arte Moderna" 
na Aliança Francesa em Faro
no ano de 1964

Nome e esenho de Pedro Morais no postal

À noite, depois do jantar, a campainha retinia, e o amigo lá estava à porta da entrada enfeitado pelos nossos encontros, pela aura noctívaga da solicitude; caminhávamos par a par numa vibração sem atritos sonoros pisando a calçada miúda à portuguesa, em direcção à Avenida da Igreja; através dos amplos vidros e a farta iluminação de néons fosforescendo de branco leitoso, do lado duma escuridão frouxa para o espaço contíguo do café Astória, via-mos as mesas repletas de clientes, aqueles do depois do jantar...

 na rua transversal, num minúsculo café que se  escondia entre lojas de artigos domésticos, construíamos a nossa noite;

colocados os livros e as revistas que nos acompanhavam sobre o tampo da mesa ao fundo, debaixo da televisão embicada no alto como foguetório de aleluias, o estribilho da conversa circula em torno da arte, dos artistas e da pintura, – doída festa de encontros; consultavam-se os livros onde as rosas expectantes abriam pétalas de desejos...

líamos nos desenhos de Matisse os pequenos encantos dos objectos caseiros enroscados ao quotidiano dos lazeres, da ternura do espaço que os envolve na voz lírica dos poemas visuais; sobre o papel lustroso do pequeno e soberbo leque de folhas, passavam as nossas mãos burilando os sentidos nervosos do ver e sentir; o Brueghel com o seu povo curvado carregando as infinitas histórias em cenas apocalípticas, merecia uma atenção meticulosa, uma leitura judiciosa das figuras e dos seus actos mirabolantes; um carnaval de paixão amedrontada sai daqueles rostos...

 escondidos debaixo do televisor devolvia-se à noite os seus odores e fogos do dia com a passagem das horas suspensas na injunção dos sentimentos, – esboços das águas flutuantes;