quarta-feira, junho 28, 2017

os corredores habitados


Canto a escuridão que me envolve, a nuvem branca duma noite tranquila; o lar, canto da voz soterrada e iridescente, áleas do corpo amortecido, sopro embalado na quietude do gesto: plena sombra de mim; - ando no caminho de subtil aura, no bronze da penumbra, descuidado e alegre como tília ao vento do abandono ou centro de uma rosa de chuva; é noite e durmo na inviolável densidade do olhar, a mão prostrada sobre a floresta da secura, preso a mim em lençol de água ao abrigo do voo e das penas; trémula noite de pedras e rochedos, cintilações de mármores pelos desvãos dos músculos adormecidos; - elevo-me pelo canto escurecido do silêncio, dou passos de ave sobre o luar da ternura; no lugar das árvores encontra-se um passado de vidro, sobre o chão de pedra a coalhada noite vegetal, pelo aberto laço do branco tempo despede-se aquele som de água no regato correndo para a foz da noite, densa maré de bruma; trago das olarias o bojo dos odores do barro e das sementes, a névoa de uma tranquilidade de sonho e plácido alvor; os segredos da morte vestem-se de pétalas sonâmbulas, terra vã de estátuas; - vivo adormecido no folgar nocturno e na densa malva de penumbra; olho-as…, sou eu no meu espectro de lava; vejo-os soltos na verve dos risos, saltos e pulos, precipitados a palpitar danças de luz ao relento sobre a quimera dos risos na noite deslumbrada…, sou eu preso à gávea alteada em abandono sonâmbulo, trança de sonho sobre o linho do lençol; - sedosas lâminas do entendimento crescendo no chumbo do asfalto - a casa de um grito de asas volvida da louca mansidão; - acordo sob o precipício da minha voz nocturna, balanço entre a queda do ente que deixei de ser, os outros que brincavam na nave do sonho que fui e o sussurro longínquo do passado que de lá bradei