terça-feira, junho 07, 2016

os corredores habitados



nas sombras deste jardim
debaixo dos jacarandás 
alegra-se um ar de festim
na sombra do que já não há

ternura lenta correndo no rio
canção lilás de muitos braços
vazar lento do nosso estio 
debaixo dos jacarandás aos pedaços 


 

terça-feira, maio 10, 2016

os corredores habitados



Os sentidos são examinados quando num regresso às zonas em que habitámos surgem - pequenos relevos de saudades, formas de objectos onde dormiram os nossos futuros desassombrados, - uma pequena balança de plástico colorida que se escondia dentro da caixa da farinha Amparo, por exemplo; pela inércia do presente chegamos a lugares de ausência e ocultamo-nos do presente em labaredas, - as Esfinges dos nossos corações. Há ternura nas paredes que nos suportam - ajusto às frases que vou escrevendo.


A balança exprimia um sentido agudo na exploração da brincadeira, perdia-se o pleno gozo no sortilégio da aparição pelo escancarar da caixa, e, nela desabrochava uma floresta de indícios novos, de vibrações dum futuro anunciado na miniatura do objecto, espectro larvar do homem, ressonâncias dos próximos dias, já, no equilíbrio dos pratos vazios. O inédito e ainda inaudito plástico começava a vicejar aos olhos como um espasmo que entra sem cortesia pelo peito sonolento. Digo ainda daquele amarelo-limão, habitando em plasma de evidência fotográfica: - acoito-me no longínquo como um pinto que deseje regressar ao ovo embrionário.  



quinta-feira, março 31, 2016

os corredores habitados



Recito-me: a memória é um pesado contratempo rodando sobre o eixo da saudade; e alongo-me em interrogações; que posso eu fazer para construir membros aos corpos inanimados, obstar aos sulcos deixados pelos desgostos, desviar os regatos do desespero, abeirar-me das âncoras do inaudito? A voz que me sacode paira inerte sobre as lágrimas. Pode haver melancolia sobre as nuvens da alegria e daí convergir aquela, em rodopio, para o pôr-do-sol nas traseiras da casa agarrada à muleta do eterno. Esta a ficção, pelo teclado percorrendo o dedo, o braço bocejando, aponto o aqui editado, sem convicção. Esboroam-se os nervos num tempo sem cura.
 

Rosas de medo percorrem os corações dos doentes – qualquer pitonisa, mesmo sem entronizado diploma, acrescentaria essa parcela de destino aos indivíduos, rosas de medo – e, destino! preso à cadeira escrevo-o  na irrisão de si como um fecho-ecler desengonçado. Amálgama de incertezas onde os membros apodrecem aos poucos - uma circum-navegação de receios e fantasias, talvez ébrio fumo envolvendo os olhos dos pacientes na sala de esperas, cavaqueiras sentimentalmente mortas.


 Soletro noutra página:

Entre as flores lilases da amizade

Reina um supremo bem

Estar para além da factualidade

Não violar o mundo em desdém  



domingo, março 20, 2016

os corredores habitados



Elegia,  para um irmão 


Tu que partiste
desta luz que te viu
 - quebra o silêncio que deixaste,
em toda a rosa, que se abriu 




domingo, março 06, 2016

os corredores habitados



Estou sentado e vou escrevendo - nesta saudade de me vestir de luz dobrando as esquinas  dos  esconsos labirintos onde os poros dos poemas se perdem nas máquinas sem memória. O caderno aqui ao lado empresta-me esta ideia: - uma ferida no aquário do medo - a desmemoriada máquina centrifugando pesadas saudades  no interior dos corpo deprimido – projectado nas falésias da vertigem -  também aqui encontro, nestes  apontamentos, mesmo rente ao meu braço, no caderno.



Nada, é outra maneira de dizer, tudo - retido na mente este amplexo como uma ironia   certificada pela palavra, retiro-me;  o prisioneiro do lastro da  realidade consome-se pelos corredores de qualquer Megatério onde se incubam dores  em ligaduras, os sentimentos são sugados pelas narinas dos tubos até aos suspensos frascos dos plasmas, 



ossos, vaidade, espelho sem cristais

num juízo de carne abandonada

é o que resta dos campos vegetais

nas horas adormecidas, pela calada.    



quadra rascunhada numa folha A4, sobre ela relevando. Repito e respiro-a, cinzentamente. 



quinta-feira, fevereiro 25, 2016

os corredores habitados



O realismo da mente é uma capa  ou uma esponja absorvendo os mundos circundantes? -  interrogação esta que fica depois das baladas que acodem em catadupa. A alegria parece ser um pássaro pronto a partir, anda pelos ramos do dia, quando pousa no chão é para apanhar minhocas. Naquela sala onde confeitos de  gáudio espreitavam os sentidos  também se entronizava o saber; quando 8x9  era 81 soava um alarme de descrença, pairava no ar a esdrúxula enfermaria do erro, havia injecções de palmatórias sobrevoando as mentes – se pudesse pôr um emplastro à memória que redimisse os acontecimentos, naquela sala outra coisa não haveria senão felicidade.



A felicidade fustiga-nos pelas costas; - é uma frase que inventei  quando recostado olhava para a palavra, felicidade; -  foi num sussurro de acrobacia mental quando aquela se diluía numa almofada  onde é cuspida  como concha pelas ondas do mar num torvelinho de espuma dos sentidos. A felicidade dói-me quando a procuro,   injecta artifícios pela respiração, transforma-se num carnaval obsessivo, uma pulsão embriagada. Lembrei-me do D. Quixote!...ficarei por aqui?... 




sexta-feira, fevereiro 05, 2016

os corredores habitados



Os objectos retinem nos sentimentos mas os bisturis  não integram aventuras sentimentais, por isso, pairava sobre os olhares silentes uma alquimia de aventura desaventurada e ligeiramente oca. Tentei perceber onde habitava o meu entendimento,  não chegando  a tempo, este havia fugido, e aquele regressara  naturalmente ao seu estado de descodificação sem mérito. As palavras estavam perdidas na sua própria ausência, ficaram escondidas numa inoperância bucólica; pesando tudo isto mais que as pirâmides de  antigos Faraós, bastaria um leve sorriso, se o houvesse, para que tudo levitasse sem sobressaltos.

Estou sentado e escrevo. Teclo, na ponta dos dedos procuro, num olhar invertido, uma animação dentro dum coeficiente de incertezas, e, fora, olhando lateralmente leio:
- um pé descalço pela saudade adentro - está ali num papel “pintado”. - pelo lado invisual dos dedos registo o que leio, um pé descalço  e, retiro,   saudade adentro;  esta pertenceria por direito próprio àquele livro com os ecos da  melancolia despontando sobre os ribeiros,  o  Menina e Moça

Na folha de papel, sobre ela, num querido olhar, continuo lendo, - O outro lado do longe, - essa incerta bravura que nos circunscreve deixando vestígios na pele – um ciclo brevíssimo ao olhar, - digo, naturalmente alheio, sugado pelo vácuo das probabilidades.

O longe é uma metáfora do perto, quando este, apertado pelo cutelo da dúvida, abre espaços fora do entendimento. Na enfermaria, as raízes que deslumbram os corpos prendem-se às compressas, aos frascos de líquidos  medicamentosos como dedos que apontassem saliências e rugosidades à harmonia temporal, aos balcões onde se espalham os vernizes da nossa angústia. Balcões onde mãos de enfermeiras esfregam no bolor da vida.


segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Anos 10

 Ilustração do conto O Amor é uma Fuga sem Fim
 de Vitor Gil Cardeira    Desenho a tinta da china sobre papel
42x30    8/VIII
 
 

terça-feira, janeiro 26, 2016

Anos 10

 Ilustração do conto O Amor é uma Fuga sem Fim
 de Vitor Gil Cardeira    Desenho a tinta da china sobre papel
42x30    7/VIII
 
 
 

quarta-feira, janeiro 20, 2016

os corredores habitados



Domingo saturado de mordomias cinzentas, um abraço cruzado com dores, o Megatério, hospital de ternuras azedas.Um pequeno corredor no grande palácio da febre. Não há perfumes na atmosfera, uma sombra na mente percorre o corpo desassossegado.

Estou sentado e escrevo. A noite aguarda a minha presença - há frescura que chega lentamente.
Desta arte enumero os sintomas que percorrem todo o meu cascabulho, braços e mãos incluídas, pés soletrando incertezas em gestos pendulares activam os recursos, o cérebro roendo palavras. Escrevo.

- Um enxame de abelhas encapeladas no início da tripa, um ardor  qual  engolimento de três pipas de vinagre goela abaixo, imagino!.., meter as nádegas num balde de gelo?..., atear um contra-fogo?...,talvez um pouco de lixa, grossa!...; esperando num pequeno corredor escuro, algures nas entranhas do Dinossauro, pelo médico. Era domingo mas não havia tempo para arrumos no coração.
- temos que operar!

Estou sentado e vou escrevendo, isto, agora recordado: - um poeta que se preze tem que incendiar o cérebro dos transeuntes   

 Sala verde e um balanço para a eternidade, a indómita beleza do vazio. Deita-se uma pessoa na marquesa com a lucidez inteira das papilas, sem venenos na língua, sem filas de borboletas nos olhos. O tecto, e...quando faço a operação? - já fez!
Nada de enternecidas visões ou esmolas para novos impulsos -- o mundo esmera-se em fabricar vantagens e apagar agonias -- está tudo certo na infinita clareza do devir.

Estou sentado e escrevo: como pode um cérebro destronar  a sua própria ignorância, a vontade de existir fora dum tempo que nos envolve, aventurar-se em conformidade com o soletrar da esvaecida unidade? há azafamas que escondem ao entendimento os caminhos evanescentes, moléculas da vontade que caminham em direcção ao sol!

Encontro no caderno:- Não me invejam as filosofias que abandonam os passos do dia-a-dia inventando transcendências em cada laranja que cai

 É com estes nadas que endireito a coluna vertebral -- posso ficar seco nos lábios  mas a amargura que envolve os olhos desagua em sorrisos nas orelhas -- é isso que os aparatos das amostras  desenham nos sorrisos da boca; procurar na pele os doces que me embebedam, -- não há nada que seja exactamente nada, --  uma flor murcha já não é uma flor, é aquele calor que se apagou quando o sol ainda brilhava.

 dizeres embalsamados pela literatura onde se esconde o cio das,





terça-feira, janeiro 12, 2016

Anos 10

 Ilustração do conto O Amor é uma Fuga sem Fim
 de Vitor Gil Cardeira    Desenho a tinta da china sobre papel
42x30    6/VIII

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Anos 10

 Ilustração do conto O Amor é uma Fuga sem Fim
 de Vitor Gil Cardeira    Desenho a tinta da china sobre papel
42x30    5/VIII